A maior zona de livre-comércio do mundo não sairá do papel antes das eleições europeias no início de junho. Enquanto a França aperta o freio, Alemanha apoia ratificação do pacto. Já ambientalistas torcem pelo fracasso.
Por: Oliver Pieper | Crédito Foto: Mateus Bonomi/Anadolu/picture aliance. Em visita ao Brasil em março, Macron disse que o pacto UE-Mercosul era um “péssimo acordo”
Se for concluído, o acordo de livre-comércio entre a União Europeia (UE) e o Mercosul será o maior tratado desse tipo no mundo, atingindo um total de 780 milhões de pessoas. Contudo, em visita ao Brasil no fim de março, o presidente da França, Emmanuel Macron, avaliou que o pacto, “tal como está sendo negociado agora, é um péssimo acordo”.
A fala de Macron pode ter sido uma tentativa de evitar dar aos partidos populistas de direita franceses – como o Reunião Nacional, de Marine Le Pen – munição gratuita para sua campanha antes das eleições para o Parlamento Europeu no início de junho. Ou uma tentativa de não irritar ainda mais os agricultores franceses, que paralisaram as ruas do país durante semanas com seus protestos.
As palavras do presidente francês ainda ressoam semanas depois, e o acordo entre a UE e países sul-americanos, finalizado há cinco anos, segue até hoje sem ratificação. A história se repete: foi também a França que bloqueou o acordo em 2019 – à época, em resposta ao ex-presidente de extrema direita Jair Bolsonaro e suas políticas controversas na Amazônia.
Alemanha avança, e França freia
Agora, Macron está preocupado com o fato de que a Argentina, o Brasil e o Uruguai possam inundar a União Europeia com carne mais barata – e que os agricultores franceses voltem a fazer barricadas. Por outro lado, o setor industrial alemão está pressionando para que o acordo seja concluído, se necessário por uma maioria qualificada, mesmo sem a ratificação da França.
Grandes empresas químicas, como a Basf e a Bayer, bem como automotivas, incluindo a Daimler e a Volkswagen, veem o acordo como uma grande oportunidade de negócios. A Volkswagen disse à DW que “apoia uma política comercial aberta, livre e baseada em regras, e está defendendo a rápida ratificação do acordo com o Mercosul”.
Em Bruxelas, os negociadores permanecem notavelmente calmos, apesar do atraso. “As equipes do [acordo] UE-Mercosul continuam em contato em nível técnico para resolver as questões pendentes. A UE continua se concentrando em garantir que o acordo atenda às metas de sustentabilidade da UE, ao mesmo tempo em que leva em consideração as sensibilidades da UE no setor agrícola”, afirma Olof Gill, porta-voz da Comissão de Comércio e Agricultura do bloco.
E assim se desenha mais um capítulo na história aparentemente interminável das negociações entre a UE e o Mercosul. Elas começaram em 1999, com o objetivo de facilitar o comércio entre os dois continentes em determinados produtos e reduzir as tarifas. No entanto, esses 25 anos parecem ter sido uma crônica de oportunidades perdidas. A mais recente foi no final de 2023, quando o clima na França ainda estava calmo, os tratores ainda não passavam pelas cidades francesas, e o momento era de fato muito favorável.
Veja em: https://www.dw.com/pt-br/o-que-ainda-trava-a-conclus%C3%A3o-do-acordo-ue-mercosul/a-69127682
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