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Onças-pintadas resgatadas dos incêndios retornam ao Pantanal

Após passarem por tratamento para queimaduras, Itapira e Miranda foram reintroduzidas na natureza. Mas nem todos os animais resistiram aos ferimentos.

Por: Maurício Frighetto | Crédito Foto: Itapira foi resgatada em meio a incêndios que destruíram grandes regiões no Pantanal. Foto: Lucas Morgado

“Todos estão seguros, perto dos carros?”, perguntou a bióloga Lilian Rampin. Com a confirmação, ela subiu na gaiola e abriu a porta com cuidado. A onça-pintada Itapira rosnou, mas saiu da jaula em direção ao Pantanal do Mato Grosso do Sul em uma tarde quente no dia 5 de outubro. Em agosto, a felina de quase dois anos havia sido resgatada com as patas queimadas nos incêndios que atingem o bioma.

Dias antes, Rampin havia participado da reintrodução de outra onça-pintada: Miranda. As duas conseguiram fugir do fogo, mas precisaram ser socorridas e tratadas porque suas patas apresentavam queimaduras de segundo grau. Pelo menos outras quatro morreram vítimas dos incêndios no Pantanal.

A onça é fundamental para o equilíbrio do ecossistema, explicou Rampin. Ela é bióloga do Onçafari, ONG voltada para a conservação da natureza. “Por estar no topo da cadeia alimentar, ela garante o equilíbrio da biodiversidade. O ambiente que tem onça-pintada não vai ter um desequilíbrio, com muita capivara, jacaré ou porco do mato.”

Onça Itapira sentada em foto de 09 de outubro de 2024
Itapira voltou à natureza em 5 de outubro. Foto: Mario Nelson Cleto

A beleza da espécie também justifica sua conservação. “Estamos falando de um bicho que só não voa”, disse Rampim, que trabalha há 12 anos com os felinos. “Ela é conhecida como mão fofa. Na tocaia, você não a escuta chegando. Ela consegue se camuflar na paisagem verde, marrom, preta, mesmo sendo um bicho cheio de rosetas pretas. Corre muito rápido, escala, sobe e desce de árvore, salta longas distâncias.”

E mesmo com todas essas habilidades, as onças-pintadas precisaram de ajuda para sobreviver aos incêndios.

Rastros em vez de pegadas

O incêndio que começou no fim de julho atingiu cerca de 85% da Caiman, em Miranda (MS), uma propriedade de 53 mil hectares que abriga uma das bases do Onçafari. Na medida em que o fogo avançava pela região, os profissionais da ONG lutavam para salvar os animais.

Uma das primeiras missões foi socorrer Pacato, onça que estava em um recinto de treinamento. No local de 10 mil metros quadrados, as filhotes Isa e Fera aprenderam a caçar antes de retornar ao seu habitat em 2016. Aquele foi o primeiro processo bem-sucedido de reintrodução de felinos na natureza no mundo. Pacato foi salvo, mas o espaço acabou consumido pelo fogo.

O Onçafari estima em R$ 2,5 milhões os prejuízos causados. A ONG espera arrecadar este valor na campanha Recupera Pantanal, com o objetivo de manter equipes de brigadistas para o combate ao fogo, construir poços de água, oferecer suplementação de alimentos, adquirir novos equipamentos e cuidar dos animais sobreviventes, como Itapira.

Onça deitada em maca cercada por biólogos
Miranda sendo preparada para voltar à natureza. Foto: Mario Nelson Cleto

Assim como outros bichos, Itapira se refugiou em uma manilha, um tubo de concreto usado para escoar a água nos tempos de cheia do Pantanal. Estava com as patas, os bigodes e os cílios, um importante órgão sensorial, queimados. “Passou um filme na minha cabeça. Porque Itapira é filha da Isa. Se a Isa não tivesse retornado à natureza, Itapira não existiria porque sua mãe estaria em cativeiro em algum lugar do Brasil”, avaliou a bióloga.

Os profissionais do Onçafari passaram a observar a onça para avaliar se a ajuda era realmente necessária. Tiveram certeza que ela precisava ser resgatada quando olharam para suas pegadas: em vez de marca de patas, encontraram sinais de que estava se arrastando.

No dia 7 de agosto, o veterinário Ricardo Arrais usou um rifle para atirar um dardo com anestésico na onça. Assim que o medicamento fez efeito, os profissionais verificaram que ela tinha queimaduras de segundo grau nas patas. Mas os tendões, responsáveis por retrair as garras na hora da caça, estavam intactos.

Itapira ainda ficou alguns dias no Onçafari, mas precisou de cuidados mais intensos, até porque a Caiman tinha sido queimada. Ela foi levada para Corumbá de Goiás (GO) no Instituto Nex No Extinction, ONG que atua há 24 anos na proteção das onças.

 

Publicado originalmente em: https://www.dw.com/pt-br/on%C3%A7as-pintadas-resgatadas-dos-inc%C3%AAndios-retornam-ao-pantanal/a-70573500

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