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Por que tanto barulho em torno do gás natural?

Governos e empresas que trabalham com combustíveis fósseis têm insistido na ideia de que o gás natural é a ponte para um futuro calcado na energia limpa. Mas será que ele pode ser realmente “verde”?

Por: Stuart Braun | Crédito Foto: Jens Büttner/dpa/dpa-Zentralbild/picture alliance. Gasoduto Nord Stream 2 é projeto controvertido entre Rússia e Alemanha

Há muito tempo o gás natural não serve apenas para cozinhar, mas também para aquecer casas e empresas durante o inverno, além de ser cada vez mais utilizado para produzir eletricidade. Somente nos Estados Unidos, em 2020 esse combustível fóssil respondeu por 34% do consumo de energia e foi a principal fonte de geração de eletricidade.

Agora, à medida que o mundo caminha para a eliminação gradual da energia provinda do carvão, essas três letras são saudadas como um herói climático em plena expansão. Mas a afirmativa procede?

A lenda do gás limpo

Na verdade, não. Ele não é uma energia limpa, como a Comissão Europeia deu a entender no início de janeiro, ao propor classificar o gás e a energia nuclear como bons para o meio ambiente.

É verdade que o gás gera cerca de 50% menos emissões de CO2 do que o carvão mineral quando produz eletricidade, mas ele também provou ser a fonte de gases do efeito estufa que mais cresceu no planeta na última década – uma trajetória que deve continuar.

Na União Europeia, o gás é a segunda maior fonte de emissões carbônicas depois do carvão, e representa cerca de 22% da produção global de CO2.

E isso não é tudo: o público ouve com insistência cada vez maior que o gás é necessário à transição para um futuro de energia limpa. A teoria é que, sendo mais limpo do que outros combustíveis fósseis, ele ajudaria a suprir o déficit de energia causado pela iminente e eliminação progressiva do carvão.

A realidade, contudo, é que, enquanto combustível fóssil, o gás natural também causa mudanças climáticas. Por isso, o Partido Verde Europeu ameaça processar a Comissão Europeia por sua pressão para classificar como sustentáveis alguns investimentos em gás. Enfim: o gás natural já está sendo descrito como o “novo carvão”.

Chaminé de refinaria de petróleo lançando chamas
Depois do carvão, gás é segundo maior responsável por emissões globais de CO2. Foto: Patrick Pleul/dpa-Zentralbild/picture alliance

Metano e insegurança energética

O gás natural é um hidrocarboneto combustível composto principalmente de metano, que é cerca de 28 vezes mais poluente do que o dióxido de carbono e propenso a vazar de gasodutos e tubulações.

É um combustível fóssil não renovável encontrado nas profundezas do solo, em meio ao xisto e outras rochas, e muitas vezes na proximidade do petróleo. É usado para gerar energia, mas também como matéria-prima química para plásticos e fertilizantes, e a atual corrida ilimitada por esse material pode resultar no esgotamento das reservas de gás natural dentro de cerca de 50 anos.

Portanto o conceito de usar o gás como “combustível-ponte” para um futuro de energia limpa não é um raciocínio de longo prazo: um dia, não muito longínquo, ele se esgotará. Nesse meio tempo, alega-se, ele traria segurança energética à humanidade.

Gasoduto Nord Stream 2 que vai da Rússia à Alemanha
Obra do gasoduto Nord Stream 2 foi concluída em setembro de 2021, mas embargos impedem transporte do gás. Foto: Axel Schmidt/Nord Stream 2

A dificuldade de obter gás explica a forte dependência da Europa em relação à Rússia por esse combustível fóssil. Como ele é bombeado e enviado para longas distâncias, a imensa infraestrutura exigida aumenta seu custo, e também a quantidade de CO2 emitido.

A geopolítica é outro problema: o atraso para finalizar a obra e conectar o gasoduto Nord Stream 2 da Rússia à Alemanha, em meio a crescentes ameaças de guerra na Ucrânia, é um exemplo. Está tudo pronto, mas o gás não é enviado. Os preços do combustível disparam à medida que o fornecimento diminui.

A própria Alemanha é tão dependente do gás para combustível e aquecimento que está aberta a fornecimentos dos Estados Unidos, e tem planejado construir novos terminais, extensos e custosos, para receber remessas de gás natural liquefeito (GNL).

O problema é que as importações incluiriam gás obtido por fraturamento, ou fracking. Consistindo na extração de gás ou petróleo de de rochas e xistos em reservas subterrâneas, esse processo é nocivo ao meio ambiente, por envolver produtos químicos tóxico.Além disso, libera grande quantidade de metano e é potencialmente um inimigo do clima ainda maior do que o carvão.

Muitos países europeus, como a Alemanha, proibiram a prática, mas um dia o GNL americano extraído por fracking pode vir a substituir o gás russo.

 

Veja em: https://www.dw.com/pt-br/por-que-tanto-barulho-em-torno-do-g%C3%A1s-natural/a-60343532

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