Perspectiva para um segundo mandato do republicano nos Estados Unidos é de cortes orçamentários em estímulos à transição verde, leis ambientais enfraquecidas e apoio ao setor de combustíveis fósseis.
Por: Martin Kuebler | Crédito Foto: Alex Brandon/AP Photo/picture alliance. Trump prepara desmonte de leis climáticas
O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, que se diz cético em relação às mudanças climáticas, não esconde seus planos para o clima na sua segunda presidência.
Na campanha eleitoral e desde sua eleição, ele se comprometeu a aumentar a exploração de combustíveis fósseis, cancelar créditos fiscais para veículos elétricos e projetos de energia limpa, desfazer regulamentações ambientais e recuperar fundos não gastos do que ele chamou de “novo golpe verde”, uma legislação climática histórica aprovada pelo atual presidente Joe Biden.
A retórica de Trump ecoa as propostas delineadas no Projeto 2025, um manual de 900 páginas publicado pela ultraconservadora Heritage Foundation. Embora Trump tenha se distanciado publicamente do plano, vários de seus autores foram nomeados para cargos importantes do futuro governo.
Entre eles está Russ Vought, que, como principal funcionário da área de orçamento, ajudaria a definir as prioridades do governo e que, no Projeto 2025, enfatizou a importância da “agenda do presidente”.
“Uma administração muito destrutiva”
“Não temos ilusões de que este não será um governo destrutivo”, disse Rachel Cleetus, diretora de políticas para clima e energia da União de Cientistas Preocupados (UCS), com sede nos EUA. “Ele é anticientífico em sua essência.”
Cleetus não acredita que o governo vá usar a pesquisa climática consolidada para “orientar a boa formulação de políticas” e agir no “interesse público”, apontando que muitos dos indicados de Trump não têm nem mesmo a experiência mais básica para o cargo.
“Em vez de julgamento independente e conhecimento especializado, há muita lealdade, quase como se fosse um culto, a um presidente que assumiu uma postura muito forte contra a energia limpa, completamente comprometido com os interesses dos combustíveis fósseis”, disse ela à DW.
E com as duas câmaras do Congresso controladas pelos republicanos e a Suprema Corte de maioria conservadora, pelo menos até as eleições de meio de mandato em 2026, Cleetus disse que restam “pouquíssimas barreiras” para resistir aos planos de Trump.
“Tudo isso junto é um cenário muito preocupante”, disse ela.
Cortes orçamentários e leis enfraquecidas na Agência de Proteção Ambiental
O escolhido por Trump para chefiar a Agência de Proteção Ambiental (EPA), o ex-congressista de Nova York Lee Zeldin, se opôs à proteção ambiental e aos investimentos em energia limpa durante seu mandato no Legislativo.
Ao anunciar sua escolha em 11 de novembro, o presidente eleito disse que Zeldin ajudaria a “liberar o poder das empresas americanas e, ao mesmo tempo, manter os mais altos padrões ambientais, incluindo o ar e a água mais limpos do planeta”.
Como chefe da EPA, Zeldin deve desmantelar regras rigorosas introduzidas pela administração Bidenpara controle da poluição do ar e da água, extração de combustíveis fósseis, biodiversidade e substâncias tóxicas – uma repetição do que Trump ordenou que a EPA fizesse quando substituiu Barack Obama em 2017.
“Eles falam sobre ar limpo e água limpa, mas estão [planejando] reverter todos esses […] padrões de poluição que são especificamente projetados para proteger a saúde das pessoas e o meio ambiente”, disse Cleetus. “Eles estão falando em cortar orçamentos e atacar a equipe em todas essas agências.”
Mandy Gunasekara, chefe de gabinete da EPA durante a primeira presidência de Trump e autora colaboradora do Projeto 2025, disse ao jornal The New York Times em outubro que o plano para o segundo mandato de Trump seria “demolir e reconstruir” suas estruturas.
Durante a primeira presidência de Trump, a agência viu seu orçamento estagnar e teve que lidar com a perda de mais de 1,1 mil funcionários, muitos desmoralizados pelo enfraquecimento ou remoção de mais de 100 regras ambientais.
Para o diretor executivo do Sierra Club, Ben Jealous, a nomeação de Zeldin “revela as intenções de Donald Trump de, mais uma vez, vender nossa saúde, nossas comunidades, nossos empregos e nosso futuro aos poluidores corporativos”.
“Precisamos de uma mão firme e experiente na EPA para mobilizar recursos federais para combater as mudanças climáticas e utilizar todo o poder da lei para proteger as comunidades da poluição tóxica”, disse a presidente da Earthjustice, Abigail Dillen, em um comunicado em 12 de novembro. “Lee Zeldin não é essa pessoa.”
Publicado originalmente em: https://www.dw.com/pt-br/qual-o-projeto-de-trump-para-energia-limpa-carros-el%C3%A9tricos-e-clima/a-71213516
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