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“Barbárie”: assassinato de petista causa repúdio

Políticos condenam assassinato de dirigente do PT por bolsonarista no Paraná. Oposição diz que Bolsonaro estimula ódio político. Presidente e apoiadores já começam a usar táticas diversionistas para minimizar crime.

Por: Jean-Philip Struck |Créditos da foto: Mario Tama/Getty Images. Dirigente do PT foi morto por um bolsonarista durante sua festa de aniversário com temática pró-Lula

O assassinato do guarda municipal e dirigente municipal do PT Marcelo Arruda por um bolsonarista durante uma festa de aniversário com temática pró-Lula provocou repúdio entre políticos de diferentes partidos e personalidades públicas do Brasil. Várias figuras responsabilizaram o presidente Jair Bolsonaro pelo crime, acusando o presidente de extrema direita de estimular “ódio político”, “fanatismo inconsequente” e “radicalismo injustificável”.

Bolsonaro, por sua vez,  se manifestou sem mencionar diretamente o crime e evitando prestar condolências pela morte de Arruda. Nas redes, ele reproduziu uma mensagem em que diz “condenar” a “violência contra opositores”, mas ao mesmo tempo afirmando que a “esquerda acumula um histórico inegável de episódios violentos”. Paralelamente, membros da extrema direita também lançaram nas redes táticas diversionistas para minimizar o crime.

Arruda foi assassinado a tiros na noite de sábado (09/07) em Foz do Iguaçu (PR) por um agente penitenciário bolsonarista, que havia invadido a festa aos gritos de “Aqui é Bolsonaro!” antes de disparar duas vezes diretamente contra Arruda, que celebrava seu aniversário de 50 anos.

Arruda deixa quatro filhos, entre eles uma menina de apenas dois meses. O assassino, o agente penitenciário federal Jorge José da Rocha Guaranho, chegou a ser ferido em legítima defesa por Arruda e permanece internado.

“Ele gritava que ia matar todos os petistas, gritava palavras de ordem e ‘aqui é Bolsonaro'”, relatou ao jornal O Globo o filho mais velho de Arruda, Leonardo. “Pelo ódio dele, parecia que ia matar todo mundo. Mas meu pai conseguiu evitar o pior, antes de morrer.”

As redes sociais de Guaranho mostram várias manifestações de apoio a Bolsonaro e mensagens com bandeiras bolsonaristas, como apoio a Donald Trump, oposição ao aborto, ataques à imprensa, denúncias mentirosas de fraude nas eleições americanas, conspiracionismo sobre a pandemia e críticas ao Supremo Tribunal Federal. Em seu perfil no Twitter, ele se apresentava como “cristão” e “conservador”. Em uma publicação junho de 2021, Guaranho aparece ao lado do deputado Eduardo Bolsonaro, um dos filhos do presidente.

Em entrevista a uma afiliada da TV Globo no Paraná, o secretário municipal de Segurança Pública de Foz do Iguaçu, Marcos Antonio Jahnke, afirmou que a Polícia Civil investiga o crime. “Pelo que a gente percebeu foi uma intolerância política”, afirmou o secretário.

Reações

Dirigentes do PT e membros da classe política não bolsonarista condenaram o assassinato de Marcelo Arruda. Alguns, como ex-presidente Lula, acusaram o presidente Jair Bolsonaro de incentivar a violência.

“Duas famílias perderam seus pais. Filhos ficaram órfãos, inclusive os do agressor. Meus sentimentos e solidariedade aos familiares, amigos e companheiros de Marcelo Arruda. (…) Também peço compreensão e solidariedade com os familiares de José da Rocha Guaranho [o agressor], que perderam um pai e um marido para um discurso de ódio estimulado por um presidente irresponsável”, escreveu Lula no Twitter, antes da divulgação de que o assassino havia, na realidade, sobrevivido.

 

“Este domingo amanheceu de luto após o assassinato brutal do companheiro Marcelo Arruda em Foz do Iguaçu. Ele foi assassinado durante sua festa de aniversário de 50 anos. Minha solidariedade aos filhos, esposa e amigos. Esse não é o Brasil que conhecemos e amamos”, escreveu no Twitter o petista Fernando Haddad, pré-candidato ao governo de São Paulo.

Em nota, o diretório estadual do PT do Paraná, disse que “Marcelo foi vítima da violência, do ódio e intolerância bolsonarista. O PT prestará toda assistência a sua família, acompanhará as investigações e o desenrolar jurídico dessa barbárie”.

“Nosso companheiro e amigo Marcelo Arruda, guarda municipal em Foz do Iguaçu, foi assassinado ontem em sua festa de 50 anos. Um policial penal, bolsonarista, tentou invadir a festa com arma. (…) Uma tragédia fruto da intolerância dessa turma”, escreveu a presidente nacional do PT, a deputada paranaense Gleisi Hoffmann.

Jair Bolsonaro
Bolsonaro foi acusado por políticos da oposição de incentivar violência política. Presidente de extrema direita tem longo histórico de declarações de ódio. Foto: Reuters/A. Machado

Em uma nota distribuída pelo PT, Hoffmann fez mais críticas ao presidente Bolsonaro.

“Embalados por esse discurso de ódio de Bolsonaro e perigosamente armados pela política oficial dele, que estimula cotidianamente o enfrentamento, o conflito, o ataque e a eliminação de adversários, quaisquer pessoas ensandecidas por esse projeto de morte e destruição vem se transformando em agressores ou assassinos”, disse Hoffmann.

“O Brasil assiste a mais uma tragédia fruto do radicalismo injustificável. Solidariedade à família de Marcelo Arruda. O triste acontecimento em Foz do Iguaçu não pode se repetir! O Brasil precisa de paz e união para manter sua democracia”, publicou na rede o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), que também é companheiro de chapa de Lula.

“É triste, muito triste, a tragédia humana e política que tirou a vida de dois pais de família em Foz do Iguaçu. O ódio político precisa ser contido para evitar que tenhamos uma tragédia de proporções gigantescas”, escreveu o presidenciável Ciro Gomes (PDT).

 

Saiba mais em: https://www.dw.com/pt-br/barb%C3%A1rie-assassinato-de-petista-por-bolsonarista-causa-rep%C3%BAdio/a-62426373

 

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