No norte de Minas Gerais, mais de 70 comunidades tradicionais lutam pela regularização fundiária de suas terras, alvos da cobiça da monocultura e da mineração
Por: Ana Luiza Basilio | Crédito Foto: Natália Moraes. As comunidades geraizeiras lutam pela regularização fundiária diante o avanço da agricultura e mineração
“Nem que a coisa engrossa [sic], esse território é nosso”
No norte de Minas Gerais, uma das regiões mais pobres do estado, mais de 70 comunidades lutam para preservar suas tradições e territórios frente ao avanço da agricultura e a possível chegada de um novo projeto de mineração.
Os povos tradicionais geraizeiros, que ocupam o Vale das Cancelas há pelo menos 150 anos, acusam empresas que operam no local de se apropriarem indevidamente de suas terras, de não consultá-los diante a instalação de projetos e de não repararem os danos sociais e ambientais causados pela devastação.
Com o apoio de instituições que atuam pelos direitos das populações tradicionais, as comunidades têm se articulado para reaver seus direitos na Justiça. Lutam, principalmente, pela regularização fundiária das terras distribuídas em uma área de 228 mil hectares pelos municípios de Grão Mogol, Josenópolis e Padre Carvalho, que constituem o Vale das Cancelas.
O modo de vida geraizeiro floresceu em terras de uso comum, chamadas de livres ou soltas. O gado é criado solto, por toda a comunidade, bem como é comunitário o direito de plantas e alimentos. A partir dos anos 1920, amparada pela Lei de Terras, a elite local passou a reivindicar a titulação privada dessas terras livres. As primeiras empresas chegaram à região em meados da década de 70, sob o apoio da ditadura, através da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste, a Sudene.
Desde então, os geraizeiros tradicionais vivem sob uma grave insegurança jurídica.
“Antes das empresas chegarem a gente vivia tão em paz, tão tranquilo. Cê [sic] prantava [sic] suas coisinhas, colhia, hoje cê [sic] não consegue mais que veio o desmatamento, o lençol freático tá só descendo, sumindo, chove pouco, tá acabando o planeta terra”, conta Elci Gomes da Silva, morador da comunidade de Estreito.
A insegurança afeta a saúde física e mental dos geraizeiros. Hoje, Elci faz uso de medicações para a pressão e o coração. A angústia se deve ao fato dele acompanhar, ao longo dos anos, a perda de suas terras e a redução de suas áreas produtivas, em função da chegada de empresas no território, como as ligadas à monocultura de eucalipto.
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