Na Europa muitos esperam que um futuro presidente Lula vá dar fim ao desflorestamento da Amazônia. Mas o primeiro turno mostrou que as chances de virar a mesa são mínimas.
Por: Alexander Busch | Crédito Foto: Eraldo Peres/dpa/AP/picture aliance. Esperança de desmatamento amazônico virar coisa do passado se desfez em fumaça
Duas semanas atrás, uma aparição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva eletrizou ambientalistas não só do Brasil, mas também da Europa: ele se apresentou ao lado de sua ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, um ícone do movimento ambientalista brasileiro.
Ambos se desentenderam anos atrás, também por causa da política para o meio ambiente do governo Lula, mas agora demonstravam unidade. Lula prometeu integrar em sua plataforma eleitoral o programa de 26 pontos de Marina. Ele vencendo as eleições, os incêndios que a cada ano crescem na Amazônia em breve voltariam a ser coisa do passado.
Mas aí o Brasil votou – e tudo mudou. Não só por Lula não ter alcançado no primeiro turno a maioria absoluta que alguns institutos de pesquisa de opinião haviam previsto, mas porque nas eleições gerais, realizadas paralelamente, os conservadores tiveram vitória esmagadora. Agora ficaram significativamente menores as chances de que os incêndios amazônicos diminuam ou que se intensifique a proteção aos povos indígenas, mesmo que Lula se torne presidente.
Por quatro motivos.
Primeiro, como um número surpreendente de candidatos apoiados por Bolsonaro foi eleito senador ou deputado, o atual presidente conta com sólida maioria tanto na Câmara como no Senado.
Em contrapartida, Lula tem que imediatamente se aproximar dos centristas e direitistas, diz-se em Brasília. Só assim pode estar seguro de vencer o segundo turno contra o inesperadamente forte Bolsonaro – e também poder governar. Ele precisa oferecer algo aos parlamentares, e temas ambientalistas e proteção da floresta tropical servem bem a esse fim.
Pois – e este é o segundo motivo – a bancada “Boi, Bíblia, Bala” cresceu consideravelmente no Congresso. Sozinho, o lobby do agronegócio detém a maioria dos assentos na Câmara dos Deputados. Só com pouquíssimas exceções esses mandatários estarão dispostos a votar por leis ambientais mais rigorosas ou institutos fiscalizadores mais fortes na Amazânia.
Em terceiro lugar, nos estados da região com as taxas de desmatamento mais altas, venceram os governadores que apoiam Bolsonaro. Até agora, Lula só tem do seu lado os líderes do Amapá, Pará e Maranhão. Tanto os governadores quanto os deputados dos nove estados amazônicos são tradicionalmente mancomunados com as máfias da madeira, fazendas de soja, pecuaristas e garimpeiros. Esses políticos sempre rechaçarão com veemência controles mais rigorosos da floresta tropical ou das reservas indígenas.
Além disso, para muitos brasileiros a preservação da floresta amazônica não é importante: no momento, gestão ambiental rende poucos votos no país – como acabam de demonstrar as urnas. Um exemplo é Ricardo Salles: com seus vexames nas conferências do clima, o ex-ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro tornou-se em todo o mundo um parceiro pouco confiável em questões ambientais. Agora, porém, foi eleito deputado em São Paulo com quase três vezes mais votos do que Marina Silva.
Na Europa, devemos nos preparar para, também na próxima legislatura brasileira, Amazônia, proteção ambiental e direitos indígenas assumirem um papel apenas secundário – no melhor dos casos.
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