A partir de 2030, automóveis devem emitir 55% menos CO2, até atingirem emissão zero em 2035. Exigência alemã de isenção para veículos que utilizam combustíveis sintéticos desagrada países parceiros e ambientalistas.
Créditos da foto: Arnulf Hettrich/IMAGO. Isenção exigida pela Alemanha para veículos que utilizam combustíveis sintéticos gerou polêmica
Os Estados-membros da União Europeia (UE) deram a aprovação final para uma lei histórica que determina o fim das vendas de novos veículos movidos a combustíveis fósseis após 2035.
Após o aval dos ministros de Energia dos países do bloco, a nova política climática da UE para os automóveis pôde finalmente avançar, depois de semanas de atrasos causados por uma oposição de última hora da Alemanha.
Após intensas negociações, Berlim conseguiu incluir na lei uma isenção para os veículos com motores a combustão que utilizam combustíveis elétricos, também chamados de combustíveis sintéticos ou e-combustíveis, como o etanol ou o biodiesel.
A nova política europeia tinha como objetivo tornar impossível a comercialização dos automóveis com motores a combustão no continente a partir de 2035. No entanto, a isenção exigida pela Alemanha pode possibilitar uma extensão das vendas dos veículos tradicionais, ainda que os carros movidos a combustíveis sintéticos não sejam produzidos em larga escala.
O ministro alemão dos Transportes, Volker Wissing, disse que o acordo iria “abrir opções importantes para a população rumo à mobilidade climaticamente neutra e a preços acessíveis”.
O chefe das políticas climáticas da UE, Frans Timmermans, deixou claro que “em 2035, novos carros e vans deverão ter emissão zero”.
Posição alemã irrita parceiros e ambientalistas
A isenção aos combustíveis sintéticos foi uma imposição do Partido Liberal Democrático (FDP), do ministro Volker Wissing, a seus parceiros na coalizão de governo da Alemanha: o Partido Social-Democrata (SPD), do chanceler federal Olaf Scholz, e o Partido Verde, do ministro da Economia, Robert Habeck.
A exigência da legenda pró-indústria gerou uma série de desentendimentos não apenas entre a Alemanha e a UE, mas também dentro do próprio governo alemão.
No fim de semana, a ONG ambientalista Greenpeace criticou Scholz por não impedir o que chamou de “chantagem impiedosa à UE” promovida pelo FDP.
“Após esse resultado decepcionante, está ainda mais claro que Scholz deve pressionar o FDP a tomar ações efetivas na defesa do clima nos transportes”, disse o especialista em mobilidade do Greenpeace, Benjamin Stephan.
O posicionamento de Berlim irritou alguns diplomatas dos demais países do bloco e gerou temores de que os governos possam tentar bloquear outros acordos sobre políticas climáticas cuidadosamente negociados.
A ministra de Energia da Espanha, Teresa Ribera, disse não achar justa a isenção. Ela afirmou que avaliações técnicas recentes sugerem que os e-combustíveis são caros demais para se tornarem amplamente utilizados.
Descarbonização das novas frotas até 2035
A lei europeia exigirá que todos os novos carros vendidos a partir de 2030 tenham 55% menos de emissões de CO2, em relação aos níveis de 2021, até chegarem à emissão zero em 2035. Dessa forma, a medida deve acelerar a descarbonização das novas frotas de veículos no continente.
A Comissão Europeia se comprometeu a criar meios legais para permitir que a comercialização de novos veículos movidos somente por combustíveis elétricos possa continuar até 2035, após a exigência do governo alemão.
Os e-combustíveis são considerados neutros em carbono porque são produzidos utilizando emissões de CO2 capturadas, o que, segundos seus defensores, resulta em um equilíbrio em relação ao carbono liberado durante a combustão dos motores.
As automobilísticas Porsche e Ferrari estavam entre os apoiadores dos combustíveis sintéticos, que afirmam ser uma maneira de evitar que os veículos tenham sobrepeso em razão das pesadas baterias elétricas.
Outras empresas como Volkswagen, Mercedes-Benz e Ford apostam nos veículos a bateria como forma de avançar a descarbonização. O único Estado-membro a votar contra a nova lei foi a Polônia, enquanto a Itália e a Bulgária se abstiveram.
Os meios de transporte são responsáveis por quase um quarto de todas as emissões na UE.
Redução do uso de gás natural
A Comissão Europeia apresentará no segundo semestre uma estratégia para permitir que a venda de veículos movidos a combustíveis elétricos prossiga além de 2035. Esses automóveis deverão usar tecnologias para impedir que funcionem se estiverem abastecidos com gasolina ou diesel.
Nesta terça-feira, os ministros da UE também aprovaram uma extensão da meta de reduzir a utilização do gás natural como fonte de energia em 15% durante 12 meses, de modo a preparar o continente para a falta do abastecimento russo até o próximo inverno, que começa em dezembro.
Veja em: https://www.dw.com/pt-br/ue-aprova-fim-da-venda-de-ve%C3%ADculos-a-combust%C3%A3o-em-2035/a-65160398
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