Segundo o IBGE, 10,9 milhões de jovens brasileiros entre 15 e 29 anos não estudavam nem trabalhavam em 2022 – contingente maior que toda população de Portugal. Mulheres negras são a maioria. Negação de direitos é ruína da esperança de um futuro
Por: José Eustáquio Diniz Alves, no EcoDebate
“Artigo 23º: Toda a pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha do trabalho, a condições
equitativas e satisfatórias de trabalho e à proteção contra o desemprego (…)
Artigo 24°: Toda a pessoa tem direito à educação”.
Declaração Universal dos Direitos Humanos (ONU, 10/12/1948)
Poucos dias antes da data de aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, o IBGE apresentou uma triste estatística que indicou 10,9 milhões de jovens de 15 a 29 anos que nem estavam estudando e nem trabalhando, em 2022.
O número de jovens brasileiros da geração nem-nem é maior do que todo o volume da população de Portugal, que era de 10,3 milhões de habitantes em 2022. Portanto, o Brasil tem milhões de jovens sem os direitos ao emprego e à educação, fato que representa um grande desperdício do potencial produtivo do país. Jovens sem perspectiva serão idosos sem esperança.
A publicação “Síntese de indicadores sociais 2023”, do IBGE, com base nos dados da PNAD contínua, traz informações importantes sobre a geração nem-nem na última década (2012-2022). O Brasil tinha 51,9 milhões de jovens de 15 a 29 anos em 2012 e 48,9 milhões em 2022, sendo que 4 em cada 10 destes jovens estavam exclusivamente ocupados na década. Em 2012 havia 43,7% dos jovens só ocupados, este percentual veio caindo, atingiu o nível mais baixo (35,1%) durante a pandemia da covid-19 e recuperou parcialmente para 41,3% em 2022. O percentual de jovens só estudando variou de 21,8% em 2012 para 24% em 2022. Os jovens estudando e trabalhando variou de 13% em 2012 para 12,4% em 2022. Ou seja, cerca de 50% dos jovens brasileiros de 15 a 29 anos não estavam ocupados na última década.
Pouco mais de 1 em cada 5 jovens compunham a geração nem-nem e não estavam nem trabalhando e nem estudando. Segundo a publicação do IBGE: “Esse indicador é, portanto, uma medida mais rigorosa de vulnerabilidade juvenil do que a taxa de desocupação, pois abrange aqueles que não estavam ganhando nem experiência laboral nem qualificação, possivelmente comprometendo suas possibilidades ocupacionais futuras. Tal indicador compõe a meta 8.6, que pretende reduzir substancialmente a proporção de jovens de 15 a 24 anos sem emprego, educação ou formação, como parte do ODS 8 para promoção de emprego decente e crescimento econômico, presente na Agenda 2030 promovida pelas Nações Unidas”.
O gráfico abaixo mostra que entre os jovens de 15 a 17 anos a grande maioria estava estudando e entre os jovens de 25 a 29 anos a grande maioria estava trabalhando. Mas o que chama a atenção é que entre os jovens de 18 a 29 anos, cerca de 1 em cada 4 jovens (25%) não estavam nem trabalhando e nem estudando.
O gráfico abaixo mostra que entre os jovens de 15 a 29 anos, existe um maior percentual de homens trabalhando e um maior percentual de mulheres estudando. Entre os adolescentes de 15 a 17 anos, a maioria estava estudando, com taxas mais elevadas entre as mulheres. Entre os jovens de 18 a 24 anos, o percentual de nem-nem é de 21,4% entre os homens e 34,3% entre as mulheres. Entre os jovens de 25 a 29 anos, o percentual de nem-nem é de 14,5% entre os homens e 33,8% entre as mulheres.
As mulheres predominam entre os jovens nem-nem por conta da gravidez na adolescência (ou em idades jovens) e devido à divisão sexual do trabalho que sobrecarrega o sexo feminino com as atividades da reprodução e do cuidado. A falta de políticas efetivas de direito sexual e reprodutivo – incluindo a falta de acesso aos métodos de regulação da fecundidade, aumentam o número de gravidez indesejada e acabam excluindo as mulheres do mercado de trabalho.
O gráfico abaixo mostra que a incidência dos jovens nem-nem é maior entre a população negra (preta + parda), sendo que mais de 40% dos jovens nem-nem são mulheres negras, especialmente aquelas pobres e da periferia das grandes cidades. A segregação social e espacial gera um grande desperdício do potencial produtivo do país e diminui as oportunidades de aumento do bem-estar coletivo.
O alto número de jovens nem-nem no Brasil é uma verdadeira tragédia social, pois reflete a falta de oportunidade para os jovens que não estão na escola e no mercado de trabalho. Isto acontece na sua grande maioria entre a população pobre e contribui para reforçar ainda mais os níveis de pobreza, pois sem a inserção no mundo do trabalho e sem níveis educacionais adequados estes jovens dificilmente conseguirão apresentar uma mobilidade social ascendente.
Os idosos de hoje dependem das novas gerações e os jovens de hoje serão os idosos do futuro. A bolha de jovens de hoje será a bolha de idosos de amanhã. Sem uma completa integração educacional e produtiva não haverá bem-estar para todos. Os jovens que nem estudam e nem trabalham estão mais propensos a serem manipulados por atividades criminosas e serem vítimas da violência.
Como mostra o Pisa, um dos principais testes de avaliação da qualidade da educação básica do mundo, os jovens brasileiros que estudam permanecem entre os últimos do mundo no desempenho em matemática, ciência e leitura, Evidentemente, a situação é ainda pior entre os jovens nem-nem.
Se nada for feito para mudar esta situação, o Brasil jogará fora a sua plena perspectiva de um futuro saudável e sustentável.
Veja em: https://outraspalavras.net/outrasmidias/geracao-nem-nem-a-triste-estatistica-brasileira/
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