Polícia Federal investiga possível ação criminosa, e seis suspeitos foram presos pela Polícia Civil de SP. Baixa umidade, ventos fortes e calor agravaram situação. Defesa Civil põe 48 cidades em estado de alerta máximo.
Crédito Foto: Joel Silva/REUTERS. Bombeiros tentam conter chamas em um canavial perto da cidade de Dumont
Após registrar recorde de incêndios na semana passada, o estado de São Paulo tem 48 cidades em estado de alerta máximo para queimadas, inclusive a região metropolitana de São Paulo, com risco elevado a partir desta quarta-feira (28/08), informou a Defesa Civil paulista.
As chamas, que desde a quinta-feira (22/08) consumiram mais de 44,6 mil hectares (o equivalente a 62 mil campos de futebol), mataram pelo menos duas pessoas, cerca de 200 animais, e fizeram mais de 800 deixarem suas casas, segundo o governo estadual. As vítimas eram dois funcionários de uma fábrica na cidade de Urupês que tentaram combater o fogo.
Na terça-feira (27/08), ao menos outras quatro pessoas seguiam internadas no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto por inalação de fumaça ou queimaduras.
Entre as áreas afetadas está um assentamento com um acampamento anexo, onde vivem 360 famílias, entre as cidades de Guatapará e Pradópolis.
Os focos de incêndio estavam localizados perto de Ribeirão Preto. Embora concentrados em áreas rurais, sobretudo em canaviais, muita fumaça cobriu o céu das cidades próximas e se alastrou em direção à região central do país, atingindo oito estados e o Distrito Federal. Cidades como Brasília, Goiânia e Belo Horizonte amanheceram sob névoa no domingo.
A Defesa Civil paulista informou que todos os focos de incêndio haviam sido extintos até a última segunda-feira (26/08). No dia seguinte, porém, três focos de incêndio voltaram a ser registrados na região metropolitana de Ribeirão Preto.
O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) registrou 3.482 focos de incêndio no estado em agosto. Esse número é quase dez vezes maior que o registrado no mesmo mês do ano passado. É o pior agosto desde o início das medições em 1998.
As origens das chamas estão sendo investigadas.
Maioria dos focos em áreas do agronegócio
Dos 2,6 mil focos registrados apenas em três dias, entre 22 e 24 de agosto, a maioria (81,29%) ocorreu em áreas de plantação e pastagem, segundo análise do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam).
À Agência Pública, o órgão disse que o recorde foi no dia 23, com focos de incêndio surgindo simultaneamente em diversos pontos do estado. Os números superaram o recorde da Amazônia inteira no mesmo dia – uma “anomalia muito grande”, nas palavras da diretora de Ciência do Ipam, Ane Alencar.
As chamas consomem São Paulo em um momento em que a região da Amazônia e o Centro-Oeste já registram seca e queimadas preocupantes.
De proporção incomum, os incêndios são agravados pelas condições meteorológicas desfavoráveis, com tempo seco e previsão de calor para as próximas semanas.
PF acionada
O governo federal informou que acionou a Polícia Federal (PF) para investigar a possível origem criminosa das queimadas. A PF abriu dois inquéritos no domingo (25/08) para apurar a suspeita.
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, afirmou no domingo que o governo considera a hipótese de ter sido uma ação similar ao “dia do fogo” – referência a 10 de agosto de 2019, quando grileiros e produtores rurais fizeram um movimento coordenado para incendiar áreas da Floresta Amazônica.
“Há uma forte suspeita de que está acontecendo de novo”, afirmou Silva, na sede do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo), em Brasília.
“Em São Paulo, não é natural, em hipótese alguma, que em dois dias tenha diversas frentes de incêndio envolvendo concomitantemente vários municípios”, reforçou.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva também compareceu à sala de situação montada há dois meses no Prevfogo para acompanhar os focos de incêndio no país. Ele garantiu recursos e ações do governo federal para conter as chamas.
Representantes do governo paulista afirmam que 99,9% dos incêndios no estado são provocados por humanos, e que há indícios de que o fogo pode estar relacionado a uma ação coordenada, dado o surgimento repentino de vários focos de calor em áreas distantes.
Investigações
Ao lado de Marina Silva, o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, confirmou a existência de 31 inquéritos para apurar condutas criminosas ligadas aos incêndios florestais na Amazônia e mais 20 relacionadas ao Pantanal, além das duas investigações abertas para apurar a situação em São Paulo.
“Mobilizamos as nossas 15 delegacias espalhadas pelo interior [de SP] para que a gente possa identificar essa questão que envolve essas queimadas no estado.”
Rodrigues também explicou que o governo dispõe de ferramentas que permitem retroceder as imagens de satélite, até a identificação da origem dos focos de calor, o que deve auxiliar em grande medida as investigações.
O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) afirmou que a Polícia Civil de São Paulo analisa vídeos e imagens que circulam nas redes sociais mostrando possíveis autores.
Até o momento, seis pessoas foram presas sob suspeita de provocar incêndios.
O primeiro caso, no sábado, foi de um homem de 76 anos suspeito de atear fogo em lixo em São José do Rio Preto. No domingo, foi a vez de um homem de 42 anos, flagrado por um morador colocando fogo em uma mata em Batatais. De acordo com policiais, o celular do suspeito tinha vídeos de incêndios armazenados na galeria de imagens – inclusive dele comemorando outras queimadas.
As outras prisões aconteceram nas cidades de Porto Ferreira, Batatais, Jales e Guaraci.
Prejuízos
Segundo a Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, em boletim divulgado na segunda-feira (26/08), as queimadas representaram um prejuízo de R$ 1 bilhão para a economia do estado. As áreas mais afetadas foram as de criação de gado, produção de cana-de-açúcar, de frutas, seringueiras e apicultura.
O governo do estado deve colocar à disposição R$ 110 milhões para ajudar os produtores da região, conforme informou a secretaria.
Comente aqui