Rios da região de Ancash, que abastecem 1,5 milhão de peruanos, estão contaminados com ferro, arsênico e manganês. Responsáveis pela tragédia ainda não foram identificados. Área possui minas legais e ilegais.
Por: Camilo Toledo-Leyva | Crédito Foto: Guillermo Martines. Poluição em Ancash, no Peru, torna a água do rio Santa insalubre
No início de agosto, moradores da região de Ancash, no centro-oeste do Peru, notaram a mudança de cor nos rios Santa e Tablachaca, que atravessam a região. A água apresentava uma coloração laranja. Recentemente, o governo local confirmou que a água desses rios estava imprópria para o consumo. As amostras recolhidas na região continham metais pesados.
“É um grave desastre ambiental, pois a água desses rios era destinada ao consumo de populações inteiras”, afirma Beatriz Cortez, ativista da ONG Red Muqui, que monitora questões de mineração e água no Peru.
No caso do rio Santa, cuja água é tratada para fornecer água potável ao distrito de Nuevo Chimbote, a amostra coletada continha níveis elevados de ferro e arsênico. No rio Tablachaca, que fornece água para a cidade de Chuquicara, além de ferro e arsênico, foram detectados altos níveis de manganês.
De acordo com informações preliminares, a causa dessa contaminação pode ser o colapso de uma mina da mineradora Minera Tungsteno Málaga SAC na cidade de Pallasca, em Ancash. “Pedimos informações para descobrir que tipo de mineração está sendo realizada pela Tungsteno, mas a outra possibilidade é que a contaminação venha da mina 1464 que pertence à empresa pública Activos Mineros SAC”, diz Cortez.
Explicação do governo é questionada
A Activos Mineros SAC afirmou que essas minas foram desativadas em 2015, mas que elas podem ainda estar ilegalmente em operação sendo controladas por mineradores informais que operam na área. Na mesma linha, o ministro do Meio Ambiente do Peru, Juan Carlos Castro, disse à imprensa local que a “mineração ilegal” estava por trás da tragédia ambiental.
De qualquer forma, para a ativista, “ambas as empresas são, de alguma forma, unidades de mineração das quais o Estado, em vários níveis, recebia informações”. Dessa forma, ela acredita que “a explicação mais fácil que o Estado pode dar é dizer: são os mineiros ilegais, que nunca vieram pedir permissão para nada e entraram no território”.
Em entrevista à DW, Guilermo Martines, ambientalista da Associação Marianista de Ação Social (AMAS), que trabalha perto do rio Santa, explica que certamente há mais mineração ilegal na área do que antes, mas como não foram disponibilizadas muitas informações a respeito, a situação ainda não está clara.
“As autoridades ainda não deram informações completas sobre o que está acontecendo. Isso está levando os agricultores das regiões afetadas a realizar um monitoramento autônomo da água, que estamos apoiando para assim obtermos resultados mais confiáveis”, segundo Martines.
Problema recorrente
As águas dos rios Santa e Tablachaca são vitais para as regiões de Ancash e La Libertad, onde abastecem mais de 1,5 milhão de pessoas. Devido à contaminação desses rios, várias localidades tiveram restrições nos serviços de água potável, além do perigo que representam para a irrigação de cerca de 200 mil hectares e outras atividades relacionadas, de acordo com o ambientalista Martines.
Embora a extensão da poluição nesses rios seja nova, os problemas com a mineração informal na área existem há décadas. “Esse é um problema crônico e progressivo. O Rio Santa é permanentemente um depósito de água contaminada proveniente da mineração”, afirma Martines.
A população pode estar consumindo essa água contaminada há anos e vários problemas de saúde podem ter sua origem nesse consumo. “Desta vez nos chamou a atenção a coloração do rio Santa, que se deve ao ferro, mas elementos como o manganês ou o arsênico não mudam a cor da água e podem estar lá há muito tempo”, alerta Martines.
A resposta das autoridades
Dada a gravidade e risco, as autoridades de Ancash e vários políticos solicitaram ao Estado e ao ministério do Meio Ambiente uma resposta rápida e a declaração de emergência ambiental na região afetada. Atualmente, o trabalho de limpeza está sendo realizado nos rios afetados e a água está recuperando sua cor natural. No entanto, ainda há restrições para o consumo da água.
Especialistas consultados pela DW acreditam que o governo peruano falhou no controle e nas sanções. “Há uma falha no controle do risco ambiental, pois o Estado não tem a capacidade de fiscalizar antigas minas que estariam desativadas”, pontua Cortez. E se a contaminação foi causada pela mineração ilegal, “também é responsabilidade do governo regional ter controle sobre o que acontece em seu território”, reitera.
A prioridade agora, de acordo com Cortez, é abordar o problema de forma multissetorial para verificar se a contaminação atingiu as pessoas e, em seguida, identificar os responsáveis para as sanções pertinentes. Nesse sentido, o ambientalista Martines lamenta que “o interesse exagerado do Estado peruano em cumprir um modelo econômico extrativista e voltado para a exportação, que tem como foco a mineração, esteja levando o país a essa situação”.
Veja em: https://www.dw.com/pt-br/minera%C3%A7%C3%A3o-causa-desastre-ambiental-no-peru/a-70068130
Comente aqui