Nesta semana, seminário debateu a crise da democracia liberal, no contexto da posse de Trump e do encontro dos bilionários em Davos. Atividade, parte do processo do FSM, propõe a reorganização deste espaço de resistência global — e preparou agenda de mobilização para 2025
Por: Mauri Cruz | Crédito Foto: Rafa Dotti. Aula pública com a presença de Tarso Genro, ex-governador do Rio Grande do Sul.
Encerramos em 21/1 o Seminário Internacional: Democracia, Equidade e Justiça Socioambiental, atividade realizada no âmbito dos processos do Fórum Social Mundial e do Fórum Social das Resistências de Porto Alegre. As datas de 20 e 21 de janeiro foram escolhidas por serem emblemáticas nas lutas altermundialistas. Primeiro porque no dia 20 foi a posse do presidente Trump para um segundo mandato a frente da maior potência imperialista do planeta. Pelos primeiros atos, imagina-se o aprofundamento dos conflitos internos nos EUA e no restante do mundo. Segundo, porque nestes dias, ocorre o Fórum Econômico Mundial em Davos, evento ao qual o FSM se caracterizou como contraponto desde a sua primeira edição em 2001. Havia ainda motivos locais, como o necessário balanço do colapso climático que assolou o Rio Grande do Sul em maio passado e o pacote do prefeito reeleito, Sebastião Melo que, nos primeiros dias da gestão, encaminhou projeto de lei a Câmara de Vereadores solicitando autorização para privatizar o abastecimento da água, a gestão do lixo e os serviços de assistência social.
Importante ressaltar que a ideia de realização do Seminário Internacional foi do Instituto Novos Paradigmas, organização da sociedade civil criada pelo ex-prefeito de Porto Alegre, governador do Rio Grande do Sul e ministro do Brasil, Tarso Genro e coordenada pelo companheiro sociólogo, mestre e doutor em ciências políticas, Jorge Branco. O INP, como chamamos, vem realizando um processo de debates nacionais e internacionais em defesa da democracia, da equidade e de enfrentamento aos autoritarismos no Sul global. Por conta destes debates, foi realizado uma atividade internacional no G20 Social realizado no Rio de Janeiro, onde foram elaboradas e entregues 20 propostas para o G20 que podem ser consultadas aqui no site do Instituto.
O Seminário Internacional contou com uma aula pública coletiva sobre a democracia em crise e com quatro mesas temáticas abordando a democracia participativa, os sistemas de conselhos, o colapso climático, o mundo multipolar e a crise dos sistemas de governança global e a redução da jornada de trabalho sem redução de salários.
Ao final, numa mesa de convergências, além da socialização das discussões e propostas que foram discutidas em cada uma das mesas, foi construída uma agenda coletiva de lutas para o ano de 2025 que reproduzo ao final deste texto. A sínteses dos debates, as atividades virtuais que foram gravadas e as agendas que nos movem poderão ser acessadas neste site, a partir do final desta semana.
Saímos deste processo convencidas e convencidos que nossas lutas, causas e projetos se conectam. Que não há alternativas fora do fortalecimento, proteção e controle sobre os nossos biomas e territórios, que a democracia é a única arma capaz de enfrentar o abismo das desigualdades que caracterizam a fase aguda do capitalismo neoliberal concentrador de riquezas. Estamos convencidos que os Estados nacionais são importantes, mas o enfrentamento com os donos do mundo não pode respeitar fronteiras e só uma cidadania global ativa e organizada será capaz de deter a estupidez dos 1% mais ricos do planeta.
Para reorganizar este movimento de resistência global, os processos do Fórum Social Mundial são imprescindíveis. Isto porque até o presente momento não foram criados outros espaços que sejam amplos, plurais e democráticos, como os espaços do FSM.
Como indicado na agenda comum de lutas aprovada em Porto Alegre, resta a militância social brasileira ocupar seu espaço neste processo, seja nas lutas locais e regionais em defesa de direitos, nas lutas nacionais, como é o caso da regulamentação das Big Techs ou contra o marco temporal sobre as terras indígenas, seja na reunião dos Brics que ocorrerá em junho do Rio de Janeiro e na através da Cúpula dos Povos na COP30 em novembro em Belém do Pará.
Nunca as lutas locais e globais estiveram tão embricadas e conectadas como nestes tempos que vivemos. Sem a consciência de que precisamos agir local e globalmente, devemos agir nas pautas especificas de forma a conectá-las com as lutas e pautas gerais, as chances de derrotarmos o capitalismo nesta sua etapa perversa serão reduzidas.
O tempo para mudanças está se esgotando. É agir agora ou lamentar os desastres que se avizinham logo ali na frente. Nós estamos à postos.
Dedicamos nossas atividades ao companheiro Marco Weissheimer, falecido em 19/01, um dia antes da abertura do Seminário Internacional. Agradecemos ao companheiro por sua pela trajetória de compromisso incansável na construção de um outro mundo possível. Seguiremos honrando seu legado. Marco Weissheimer, PRESENTE!
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