Crédito Foto: EPA. Aliados de Lula e especialistas creditam queda de popularidade à inflação dos alimentos.
Novos dados de uma pesquisa Datafolha divulgados na sexta-feira (14/2) indicam que a popularidade do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva despencou e atingiu o pior patamar em todos seus mandatos.
Em dois meses, a aprovação de Lula caiu de 35% para 24%, segundo o Datafolha. A reprovação também atingiu recorde, passando de 34% a 41%.
Outras pesquisas publicadas em janeiro também mostravam a queda da popularidade de Lula — mas em escala menor do que apareceu na Datafolha desta sexta-feira.
Uma pesquisa da Genial Quaest havia mostrado que o percentual de pessoas que consideram o governo Lula “excelente/bom” caiu de 33% em dezembro para 31% no final de janeiro. Dados de uma pesquisa AtlasIntel mostravam queda na aprovação do presidente de 43% em novembro para 38% no final de janeiro.
Aliados de Lula e especialistas creditaram a queda de popularidade do presidente à crise do aumento do preço dos alimentos.
A consultoria de análise política Eurasia Group diz que a pesquisa Datafolha sugere que a inflação de alimentos é o “calcanhar de Aquiles de Lula“.
“Segundo o Datafolha, a aprovação de Lula caiu acentuadamente entre aqueles que ganham menos de dois salários mínimos. Entre esse grupo — tradicional bastião de apoio a Lula — sua avaliação de ‘ótimo/bom’ passou de 49% para 29%. A queda foi mais acentuada entre as mulheres (38% para 24%) do que entre os homens e mais significativa no Nordeste (49% para 33%)”, afirma a Eurasia, em uma análise divulgada na sexta-feira.
“Esses são justamente os grupos demográficos mais sensíveis à maior inflação de alimentos.”
“Em termos práticos, isso certamente significa que Lula pressionará sua equipe econômica a enviar ao Congresso o mais rápido possível sua proposta de isentar do imposto de renda quem ganha até R$ 5 mil.”
Em novembro o governo anunciou a ampliação da faixa para isenção no Imposto de Renda (IR), que alcançará quem ganha até R$ 5 mil — uma promessa de campanha do presidente. A medida ainda está em discussão no Congresso, e pode ganhar impulso agora em fevereiro, com o governo reagindo às pesquisas de popularidade.
A presidente do PT, a deputada federal Gleisi Hoffmann, disse que “a pesquisa Datafolha é o reflexo dos dois meses mais difíceis para este governo”.
“Tivemos a especulação desenfreada com o câmbio, que também afetou os preços dos alimentos, o aumento do imposto estadual sobre a gasolina, as péssimas notícias sobre o aumento dos juros, o terrorismo sobre o resultado fiscal e a maior fake news de todos os tempos, sobre a taxação do Pix“, escreveu a deputada em sua conta no X.
“Agora temos que virar esta página, cuidando dos problemas reais do nosso povo, especialmente do preço dos alimentos, como determinou o presidente Lula”, acrescentou, citando um programa da distribuição de gás e a isenção do IR até R$ 5 mil.
O programa “Gás pra Todos” prevê o acesso gratuito ao gás de cozinha pela população de baixa renda. Uma terceira medida seria um programa de ampliação do crédito consignado em bancos privados. Esses programas também precisam ser aprovados no Congresso.
Já a Eurasia acredita que os dados de popularidade de Lula podem impactar na política econômica do governo de outra forma.
“Se a inflação for a culpada mais significativa [da queda de popularidade], o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, certamente defenderá que reduzir a inflação requer uma economia em desaceleração e uma política monetária mais apertada”, afirma a nota da consultoria.
“Esses argumentos terão alguma influência no curto prazo. Então, uma mudança significativa para o populismo é improvável. Ainda assim, os riscos [de medidas populistas na economia] para o segundo semestre do ano se tornam mais agudos.”
Inflação e eleição
Esta semana, novos dados de inflação mostraram que houve a menor variação do IPCA para um mês de janeiro desde a implantação do Plano Real, em 1994.
No entanto, isso aconteceu devido principalmente a uma queda de 14,21% no preço da energia elétrica residencial, por conta do repasse do “bônus de Itaipu” às contas de luz.
O bônus tem origem num saldo positivo de R$ 1,3 bilhão na conta de comercialização de energia da usina hidrelétrica de Itaipu, distribuído como crédito na conta de luz dos brasileiros, seguindo uma regulamentação do setor.
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Os preços dos alimentos continuaram subindo em janeiro, com uma alta de 1,07% na alimentação em domicílio, puxada pela cenoura (36,14%), tomate (20,27%), e café moído (8,56%).
As carnes acumulam alta de 21,17% em 12 meses, bem acima da inflação geral (4,56%). O café moído acumula alta de 50,35% em 12 meses até janeiro, e o óleo de soja, 24,55%. O preço da laranja foi recorde em 2024, com a laranja lima acumulando alta de 59,56% em 12 meses até janeiro.
Outra crise que afetou o governo em janeiro foi a da fake news em relação ao Pix, mecanismo bancário para transferência de dinheiro entre contas que é extremamente popular no país.
No dia 15 de janeiro, p governo Lula decidiu revogar uma nova regra do Pix da Receita Federal que ampliava desde o começo do mês as informações sobre transações Pix que instituições financeiras como bancos digitais e aplicativos de pagamento teriam de passar às autoridades.
O recuo do governo aconteceu depois de uma onda de desinformação que pregava, erroneamente, que o Pix seria taxado e que as transferências via Pix seriam monitoradas diariamente.
Para o líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), “nós tivemos uma tempestade perfeita. Teve o aumento no preço dos alimentos por causa do aumento do dólar e a crise sem precedentes do Pix”.
A Eurasia afirma que a inflação dos alimentos é um fator importante para se monitorar na corrida eleitoral à Presidência, em 2026.
“Uma queda na aprovação de Lula pode significar que ele será menos competitivo nas eleições de 2026 do que a Eurasia Group vem prevendo”, diz a consultoria.
“Se a inflação dos alimentos está afetando mais fortemente os números de Lula, e a maioria dos economistas prevê que ela aumentará em mais 7% este ano, o caminho para a reeleição parece mais difícil.”
Publicado originalmente em: https://www.bbc.com/portuguese/articles/cx2px4kjpe4o
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