Desde que voltou à Casa Branca, o magnata nova-iorquino fez cortes radicais em instituições científicas importantes. O que isso pode significar para o resto do mundo e para os esforços de combate às mudanças climáticas?
Por: Holly Young | Crédito Foto: CHANDAN KHANNA/AFP. Vítima de furacão na Flórida: dados climáticos e meteorológicos ajudam a proteger seres humanos e propriedades
Zachary Labe sempre foi fascinado pelo clima. Em criança, ele brincava que trabalhava para o Serviço Nacional de Meteorologia, dando previsões para seus pais e amigos.
Foi um grande momento quando, em meados de 2024, o jovem meteorologista conseguiu um cargo de pesquisador na Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA), um dos mais importantes locais de pesquisa climática e meteorológica do mundo: “Quando digo que esse foi meu sonho, sou bem sincero”, afirma Labe.
O sonho terminou abruptamente no início de março, quando Labe se tornou um dos cerca de 800 membros da equipe demitidos da NOAA. Sua demissão foi parte do programa mais amplos do governo dos EUA para cortar o que o presidente Donald Trump chama de força de trabalho federal “inchada”, alegando o desejo de reduzir os gastos do governo.
Mas Labe considera sua perda pessoal insignificante perante as implicações não só para a ciência climática em todo o mundo, mas também para a vida cotidiana da população nos EUA.
Evitando danos materiais e salvando vidas
O que a agência federal faz, afeta praticamente todo mundo nos EUA, explica Tom di Liberto, especialista em assuntos públicos e um dos que foram demitidos recentemente da agência: “A menos que você viva dentro de casa o tempo todo ou num bunker em algum lugar, a NOAA afeta você.”
Suas atribuições incluem o monitoramento das condições oceânicas e climáticas e a proteção de espécies ameaçadas de extinção. Mas o órgão também é a principal fonte de dados meteorológicos nos EUA, coletando cerca de 6,3 bilhões de observações todos os dias e emitindo milhões de previsões e avisos todos os anos, por meio do Serviço Meteorológico Nacional.
O trabalho de Labe envolveu a ampliação do uso de aprendizado de máquina e inteligência artificial a fim de criar previsões mais precisas de condições meteorológicas extremas, em alta em todo o mundo devido às mudanças climáticas.
A temporada de furacões nos EUA começa em apenas alguns meses. Os funcionários demitidos da NOAA se dizem preocupados com a possibilidade de que a redução dos quadros prejudique a qualidade das previsões, também dos sistemas de alerta antecipado para condições climáticas extremas, que salvam vidas e reduzem as perdas econômicas.
Di Liberto, também cientista climático, se pergunta se a organização ainda poderia “continuar a fazer as coisas que sabemos que podem ajudar a garantir que a população esteja preparada, e também preservar as propriedades de danos e, em geral, ajudar a economia dos EUA”.

Em 2024, condições climáticas extremas, como o furacão Helene, que devastou a Carolina do Norte, entre outros estados causou centenas de mortes e prejuízos bilionários.
Repercussões mais amplas para o clima
Como os satélites da NOAA coletam dados sobre todo o planeta, a redução da capacidade da agência poderia ter impacto de amplo alcance, explica Di Liberto. “Há uma tonelada de dados térmicos, oceânicos, atmosféricos, de que dependem não só os Estados Unidos, não só os países da Europa, mas também o setor privado e a indústria.”
O acesso a dados meteorológicos de alta qualidade é vital para orientar os governos na tomada de decisões e nos investimentos para proteger seus cidadãos, lembra Florence Rabier, diretora geral do Centro Europeu de Previsões Meteorológicas de Médio Prazo. “O clima não conhece fronteiras e, para prever com sucesso o tempo numa área, são necessários dados de todo o mundo.”
Vários setores – incluindo aviação, agricultura, pesca, seguros e construção – dependem da modelagem climática e meteorológica da NOAA. Ela é considerada essencial para entender como a crise climática está se desenrolando, não apenas nos EUA, mas em todo o mundo.
“Certamente será perturbador”, diz Linwood Pendleton, pesquisador chefe do Instituto Europeu de Estudos Marinhos da Universidade da Bretanha Ocidental, na França, sobre os impactos mais amplos que as perdas da agência americana podem ter sobre a ciência climática. “Acho que isso será sentido imediatamente em projetos de colaboração internacional, em que a NOAA estava arcando com grande parte dos custos.”
Publicado originalmente em: https://www.dw.com/pt-br/at%C3%A9-que-ponto-os-cortes-de-trump-impactam-a-ci%C3%AAncia-do-clima/a-71880348
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