Que bem faz aumentar o PIB se ele te mata?
Por Paul Krugman | Tradução de Isabela Palhares
Os EUA estão, agora, engajados em um experimento vasto e perigoso. Mesmo que o distanciamento social tenha limitado a disseminação do coronavírus, está longe de estar contido. Ainda assim, mesmo com alertas de epidemiologistas, boa parte do país está se encaminhando para abrir os negócios.
É até provável que você pense que tal ação momentânea viria com justificativas elaboradas – que os políticos insistindo pelo fim do distanciamento social, desde Donald Trump até embaixo, iriam, ao menos, tentar explicar por que deveríamos tomar esse risco. Mas os que estão pedindo pela rápida reabertura têm estado em silêncio sobre as trocas envolvidas. Ao invés, falam incessantemente sobre a necessidade de “salvar a economia”.
Essa é, no entanto, uma péssima maneira de pensar sobre política econômica em uma pandemia.
Qual é, afinal, o propósito da economia? Se a sua resposta é algo como, “gerar renda que permita que as pessoas comprem coisas”, você entendeu errado – dinheiro não é objetivo final; é só o meio para um fim, melhorando a qualidade de vida.
Agora, o dinheiro importa: há uma relação clara entre renda e satisfação de vida. Mas não é a única coisa que importa. Particularmente, sabe o que também faz uma grande contribuição para a qualidade de vida? Não morrer.
E quando tomamos o valor de não morrer em consideração, a pressa pela reabertura parece realmente uma má ideia, mesmo em termos econômicos.
Você pode estar tentado a dizer que não podemos colocar um preço na vida humana. Mas se você pensar sobre isso, é bobo; fazemos isso toda hora.
Gastamos muito com segurança nas rodovias, mas não o suficiente para eliminar todos os acidentes fatais evitáveis. Regulamos os negócios para evitar uma poluição letal, mesmo que custe dinheiro, mas não de maneira rígida o suficiente para eliminar todas as mortes relacionadas com a poluição.
Na realidade, ambas políticas ambientais e de transportes no passado foram explicitamente guiadas por números sobre o “valor de uma vida estatística”. As estimativas atuais estão ao redor dos 10 milhões de dólares.
Verdade, as mortes por Covid-19 têm se concentrado entre os estadunidenses mais idosos, que aguardam menos anos de vida restantes, de modo que podemos usar um valor mais baixo, digamos 5 milhões. Mas mesmo assim, a matemática diz que enquanto o distanciamento social reduziu o PIB, valeu a pena.
Saiba mais em: https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Pelo-Mundo/Sobre-a-economia-da-sobrevivencia/6/47670
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