Um ato de racismo extremo destampa a panela de pressão, reúne milhões contra Trump e põe em xeque a ultradireita. Protestos alastram-se pelo mundo – mas a resposta é crua e brutal. Nada está decidido. Dias decisivos vêm aí
Por William River Pitt | Tradução: Antonio Martins
Nunca houve um fim de semana, nos Estados Unidos, como estes que acabamos de viver.
Muitas comparações com o momento atual foram feitas – com a fúria que emergiu em 1968, após o assassinato de Martin Luther King Jr e com os Dias de Raiva, o levante civil contra a guerra do Vietnã que tomou Chicago em 1969. Alguns lembram que o “Verão vermelho” de 1919 é uma possível comparação, pois uma onda de violência racista varreu o país, que se debatia com a devastação da pandemia de gripe “espanhola”
Porém, nada na História corresponde com exatidão aos eventos dos últimos dias. Uma epidemia letal que ainda começa destroçou as ilusões de força que este país nutriu, durante décadas, para encobrir suas misérias evidentes. Estas mesmas misérias permitiram a emergência de um pretendente a tirano, um governante que se enfurece contra a extinção de sua frágil luz, enquanto se esconde, no bunker da Casa Branca, das consequências de suas própria negligência.
Graças ao advento da era das mídias sociais, quase tudo isso foi gravado e difundido amplamente. A violência de um Estado policial do supremacismo branco, uma verdade construída por séculos, foi explosiva novamente. Desta vez, não houve uma volta ao antigo normal – como era sempre comum –, nem um desaparecimento progressivo dos fatos, no oceano de notícias banais. Desta vez, tudo está nas ruas, com punhos e vozes erguidas, e sem conclusão à vista.
George Floyd morreu sob o joelho de um policial cujo histórico de violência era notório. Uma garota de 17 anos registrou o assassinato em vídeo e, em seguida, o mundo todo assistia. Como disse o ator Will Smith num programa de TV, em 2016, “o racismo não está piorando – ele está sendo filmado”.
Em Minneapolis, Louisville, Washington, Nova York, Boston, Chicago, Atlanta, Birminghan, Sioux Falls, Sacramento, Oklahora, Cleveland, Murfresboro, Longo Beach, Detroit, Denver, Philadelphia, Seattle, Dallas, Milwaukee e muitas, muitas outras cidades dos EUA, a população se leventou. Mais de 40 cidades assistiram a protestos pacíficos e a levantes selvagens, em igual medida.
As vitrines despedaças e o fogo atraem, é claro, a maior parte da atenção da mídia, o que despertou a ira daqueles que querem nos distrair das razões pelas quais os levantes começaram. Há evidências crescentes de que certos grupos, na extrema direita, estão tentando usar um pouco do caos em favor de seus próprios fins, assim como buscam atingir comunidades negras e atiçar uma guerra civil racial.
Muito da atenção da mídia está sendo desviado para os “saques”. Imagens de cidadãos de todas as origens raciais levando comida, produtos de beleza e outros bens das lojas, em meio ao caos, dominam os círculos da mídia, ameaçando enterrar o tema central em debate
Saiba mais em: https://outraspalavras.net/movimentoserebeldias/raiva-e-rebeldia-e-no-coracao-do-imperio/
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