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”O mercado de ações está se iludindo”

O proeminente economista americano Nouriel Roubini não acredita que a economia global se recupere rapidamente. Ele acha que a terrível situação produzirá um verão de protestos nos EUA e anos de dificuldades na Europa também

Por Tim Bartz

Der Spiegel: Sr. Roubini, a pandemia colocou a economia global de joelhos e milhões de pessoas perderam o emprego. A crise é tão grave quanto a Grande Depressão da década de 1930?

Roubini: O crash é ainda maior do que foi naquela época. Levou anos, desde 1929, até que toda a extensão da crise se tornasse visível. Comparado a hoje, aquela crise foi como um acidente de trem em câmera lenta. Agora, a economia mundial entrou em colapso em semanas e nos EUA, sozinho, mais de 40 milhões de pessoas estão desempregadas. Muitos acreditam que a economia se recuperará novamente com a mesma rapidez, mas isso é uma falácia.

Nouriel Roubini, 62 anos, é um dos economistas mais conhecidos do mundo. Professor da Stern School of Business, em Nova York, ele é um dos poucos que previram o estouro da bolha imobiliária, nos EUA, e a crise financeira resultante em 2008. Ele também estava entre os que alertaram desde o início que a COVID-19 causaria um enorme estrago na economia.

Der Spiegel: Você não acredita em uma recuperação em forma de V, apesar dos enormes pacotes de estímulo econômico? Afinal, 2,5 milhões de novos empregos foram recriados nos EUA. em maio.

Roubini: Obviamente, veremos uma subida na segunda metade do ano. Mas não será real, será uma ilusão. A economia caiu tão acentuadamente que é praticamente inevitável que se recupere novamente em algum momento. Mas isso, de forma alguma, compensará o crash. Mesmo no final de 2021, a economia dos EUA ainda estará abaixo do nível do início de 2020; muita coisa foi destruída. E a taxa de desemprego se estabilizará em 16 ou 17% – durante a crise financeira [de 2008] foi de apenas 10%. A criação de empregos em maio foi de apenas 2,4 milhões, depois que 42 milhões perderam seus empregos nos últimos meses. E a taxa real de desemprego é muito maior do que a medida oficialmente.

Der Spiegel: O mercado de ações obviamente vê as coisas de maneira diferente, com as ações já sendo negociadas no mesmo nível que no início do ano.

Roubini: O mercado de ações está se iludindo. Os investidores estão apostando que haverá mais pacotes de estímulo econômico e uma recuperação em forma de V dos lucros. Mas para as pessoas aqui nos EUA, isso não significa nada.

Der Spiegel: Desde quando os americanos não se importam com o mercado de ações?

Roubini: Em Wall Street, são as grandes corporações que dão o tom, bancos e empresas de tecnologia em particular. Elas sobreviverão à crise porque o Estado nunca as deixará quebrar. Elas chutarão as pessoas para fora, cortarão custos e, no final, terão ainda mais poder de mercado do que antes. Mas o que aqui chamamos de Main Street [economia real], pequenas e médias empresas, não conseguem fazer isso. Eles simplesmente vão falir. Estimo que um em cada dois restaurantes na cidade de Nova York terá que fechar, mas o McDonald’s sobreviverá. Mas isso não é tudo.

Der Spiegel: O que mais?

Roubini: Os 10% mais ricos dos americanos detêm 80% da riqueza do mercado de ações, enquanto 75% não possuem ações. Existe um estudo do Federal Reserve, segundo o qual 40% dos americanos não têm US$ 400 em dinheiro para estarem preparados para emergências. Estamos enfrentando essa emergência agora. O sistema está doente e as pessoas estão indo às ruas por causa disso.

Der Spiegel: Você quer dizer que os protestos após o assassinato de George Floyd pela polícia também têm um componente social?

Roubini: Claro! Na área em que moro, no Bowery, Lower Manhattan, três quartos dos manifestantes são brancos. Muitos deles são jovens e pertencem ao “precariado” urbano, a nova subclasse que substituiu a classe trabalhadora tradicional, o “proletariado”, nas economias avançadas em serviços. O precariado é formado por trabalhadores temporários, freelancers, pessoas que trabalham por hora, trabalhadores de aplicativos e de bicos – mesmo que tenham, com frequência, diploma universitário – aqueles que não trabalham regularmente em período integral não recebem mais transferências do estado após três meses. Não poderão mais pagar aluguel e contas de telefone, a eletricidade e água serão cortadas Será um verão longo e quente.

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