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Bolsonaro: entre o financismo e os generais

Em meio à profunda crise política, econômica, social e sanitária em que está mergulhado nosso País, boa parte dos analistas se indaga a respeito dos mecanismos que ainda permitem assegurar alguma sustentação ao governo do capitão Bolsonaro.

Em meio à profunda crise política, econômica, social e sanitária em que está mergulhado nosso País, boa parte dos analistas se indaga a respeito dos mecanismos que ainda permitem assegurar alguma sustentação ao governo do capitão Bolsonaro. De fato, é mesmo impressionante a sua capacidade de resiliência em situações de grande isolamento político e crescente perda de popularidade, como a que vive atualmente.

Contam para isso a articulação em torno do amplo movimento das igrejas neopentecostais e o discurso direto do presidente à população, em uma linguagem simples e sem os requintes da liturgia do cargo. A postura do “contra tudo e contra todos” tende a angariar simpatias na linha da vitimização do “coitado” que seria boicotado por governadores, prefeitos, Congresso Nacional, Supremo Tribunal Federal e grandes meios de comunicação.

Por outro lado, contribui bastante também para a manutenção do governo uma aliança que se estabeleceu entre os interesses do sistema financeiro e as pretensões políticas de parcela da elite das Forças Armadas. É importante recordar que Paulo Guedes permanece com destaque e poder no sistema de governo, sendo um dos remanescentes da equipe que teve início na Esplanada em janeiro de 2019. Junto com ele ainda estão ocupando seus cargos figuras mais próximas do bolsonarismo-raiz, a exemplo de Ricardo Salles no Meio Ambiente, Ernesto Araújo nas Relações Exteriores, Damares Alves na pasta da Família, entre outros.

O superministro da Economia estabelece, desde a época da campanha eleitoral, um importante elo de ligação do Planalto com o povo do financismo. Essa articulação atua como uma espécie de colchão de amortecimento, para impedir que os sucessivos resultados negativos nas pesquisas de opinião se transformem em crises políticas ainda mais graves. Com o apoio implícito e explícito à política de austeridade extremada, os representantes do mundo da finança seguem como grandes entusiastas da presença de Guedes no comando da economia.

O poder da finança e da caserna.

Já a presença de militares no alto escalão do governo é um fato inovador na política brasileira desde o processo de redemocratização. Aliás, nem mesmo no período da ditadura houve tantos representantes da caserna ocupando cargos de confiança estratégicos no governo federal. De acordo com levantamento mais recente divulgado pela imprensa, seriam 10 ministros e quase 3.000 cargos espalhados pela estrutura ministerial. Assim, mantém-se uma sintonia fina e azeitada com a chapa eleita em outubro de 2018, composta por um presidente capitão e um vice general.

Um dos casos mais emblemáticos da natureza dessa ocupação de cargos a qualquer custo refere-se ao Ministério da Saúde. Aquele que deveria ser o posto mais expressivo em meio à crise emergencial da covid 19 acaba por oferecer um trágico retrato da pouca importância conferida pela equipe de governo ao assunto. A presença do General de Divisão Pazuello à frente daquela pasta oferece uma interinidade que se prolonga por meses, justamente no momento mais crítico da pandemia. Além da absoluta incompatibilidade do ocupante do cargo com o tema da saúde, Pazuello promoveu uma verdadeira farra na ocupação dos cargos de confiança e técnicos por seus colegas de farda. Profissionais com perfil mais adequado às competências foram substituídos por militares, em uma estratégia que apresenta um grave risco, tendo em vista o nítido enfraquecimento das respostas do governo às necessidades do Sistema Único de Saúde (SUS).

Além disso, o que se tem observado desde o início do mandato presidencial é uma convivência articulada entre o financismo e a elite dos militares. Apesar de alguma disputa de espaço na agenda envolvendo as prioridades do Palácio, em geral o resultado tem sido a busca da acomodação dos interesses eventualmente divergentes. É bem verdade que os pífios resultados apresentados para o crescimento do PIB por Paulo Guedes durante o ano passado e mesmo no início de 2020 ofereceram múltiplos espaços para críticas à política de austeridade. Assim, até mesmo a iniciativa articulada em abril pelo General Braga Netto, responsável pela Casa Civil, foi habilmente desarmada em seu nascedouro por Paulo Guedes. Tratava-se da ideia de criar um “Plano Marshall”, com forte indução de gastos públicos para promover a retomada do crescimento da economia.

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