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Quase 80% dos lares latino-americanos não resistem a 3 meses sem renda

Estudo do BBVA Research alerta para as consequências econômicas da pandemia entre as famílias de maior vulnerabilidade financeira

Federico Rivas Molina

Os estragos produzidos pela pandemia golpeiam com especial dureza os lares mais vulneráveis. A queda do emprego evidencia que a capacidade das famílias para fazer frente a seus gastos regulares quando perde sua rende depende diretamente do desenvolvimento econômico dos seus países. Enquanto nos Estados Unidos quase 50% dos lares conseguem se manter por até seis meses, o percentual cai para 5,5% no Equador e Paraguai, para 7% na Argentina, Peru e Colômbia e 14% no Brasil e Chile. Os dados são do relatório Vulnerabilidade financeira dos lares perante a covid-19: uma perspectiva global, desenvolvido pelo BBVA Research. “No caso de perder sua principal fonte de renda, 78% dos lares, em média, não cobririam seu custo de vida durante três meses”, adverte o relatório, que não inclui a Venezuela.

“Entre as certezas que já se têm está que os confinamentos decretados nos últimos meses levaram muita gente a perder seu emprego ou a ter que reduzir suas horas de trabalho. Isto implica o desaparecimento ou redução de sua renda, com o consequente impacto na economia e no bem-estar das famílias”, afirma o relatório, que analisa “qual é a capacidade dos lares para continuar mantendo seu nível de gasto corrente diante dessa perda de renda”. O resultado, segundo os pesquisadores, permitirá “abordar medidas que ajudem a paliar a deterioração no bem-estar ou a ampliação da lacuna de desigualdade”.

O conceito que norteia o relatório é o de “vulnerabilidade financeira”, isto é “a capacidade de fazer frente ou não às turbulências econômicas dependendo unicamente de recursos próprios”. Para medi-la, estima-se por quanto tempo uma família que perdeu sua renda conseguiria cobrir seus gastos em alimentação, energia, água, educação e saúde sem precisar recorrer a um crédito ou medidas mais extremas, como mudar de casa.

O resultado da pesquisa destaca a enorme disparidade que a pandemia causou entre economias desenvolvidas e em vias de desenvolvimento. Países como os Estados Unidos, Canadá e os europeus têm um alto grau de resiliência financeira, ou seja, são lugares onde quase 40% das famílias são capazes de subsistir sem renda por mais de meio ano. Quando o período é reduzido a três meses, a proporção média aumenta para metade das famílias. Na Espanha, por exemplo, dois em cada três lares são capazes de passar três meses sem renda alguma.

A situação muda dramaticamente nos países emergentes, sobretudo na América Latina. “Os dados do relatório sugerem que existe uma relação direta entre vulnerabilidade financeira e desenvolvimento econômico do país. Nos países emergentes do estudo (Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru, Rússia e África do Sul) pouco mais de 10% das unidades familiares suportam mais de seis meses”. “Os níveis de resiliência financeira frente às medidas de confinamento decorrentes da pandemia são, portanto, significativamente menores nestas economias”, adverte o relatório. Além disso, em geral, depois do desconfinamento gradual na região, uma parte importante das famílias não recuperou seu nível de renda anterior à pandemia.

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