Depois de meses de trocas de acusações pela imprensa e nas redes sociais, o democrata Joe Biden e o republicano Donald Trump se enfrentaram diretamente pela primeira vez na noite desta terça-feira, 29/9, em frente às câmeras da rede de TV Fox News, a 35 dias das eleições presidenciais nos Estados Unidos.
Mariana Sanches
E o resultado foi caótico.
Sob a tentativa de moderação do jornalista Chris Wallace, que aos 72 anos era o mais novo entre os três homens a ocupar o palco da Fox News, Biden e Trump protagonizaram um espetáculo agressivo e confuso durante 90 minutos, sem intervalos.
Por um lado, Trump falava não apenas no seu tempo, mas no do rival e até em cima das falas do moderador. Por outro, Biden foi lento nas respostas e partiu para ofensas pessoais ao chamar o republicano de “palhaço”, “mentiroso”, “racista” e “fantoche de Putin”. “Você vai calar a boca?”, disparou o ex-vice-presidente em dado ponto do evento. Wallace, o moderador, chegou a gritar com os dois candidatos em mais de uma ocasião. “Senhor presidente, eu sou o moderador desse debate”, ele precisou relembrar.
Uma pesquisa feita pela rede CBS News logo depois do debate, com eleitores que assistiram ao programa, mostrou que 48% deles creditaram vitória a Biden, contra 41% que disseram que Trump venceu. Já 69% dos espectadores se disseram irritados com o espetáculo a que assistiram.
Mas, afinal, sobre o que os candidatos falaram?
Pandemia
Embora tenha sacado uma máscara do casaco de seu paletó durante o debate, depois de meses se recusando a usá-la, Trump teve pouco sucesso em defender sua gestão sanitária. “Ele não está preocupado com você. Ele foi totalmente irresponsável com distanciamento social e máscara”, acusou Biden.
A pandemia de coronavírus, que recém atingiu a marca global de 1 milhão de mortos, fez mais de 20% de suas vítimas nos Estados Unidos, cuja população representa menos de 5% dos habitantes do mundo. E o desempenho de Trump é mal avaliado pelo eleitorado em geral.
Biden afirmou que Trump escondeu a gravidade do problema dos americanos e que só entrou em pânico quando percebeu uma queda no mercado de ações, em uma ironia com o fato de Trump ter dito ao jornalista Bob Woodward que subestimou publicamente a covid-19 para não criar pânico na população.
Amazônia
Crítico da gestão ambiental de Trump, que retirou os Estados Unidos do Acordo do Clima de Paris, e da proximidade entre o presidente americano e o mandatário brasileiro Jair Bolsonaro, Biden aproveitou a discussão sobre aquecimento global e citou a destruição na Amazônia brasileira como um problema para o qual ele teria uma solução: dar dinheiro ao Brasil para conservá-la e, se isso não funcionar, submeter o país a sanções econômicas.
“As florestas tropicais do Brasil estão sendo destruídas. Mais carbono é absorvido naquela floresta do que é emitido pelos Estados Unidos. Vou garantir que vários países se juntem e digam (ao Brasil): ‘Aqui estão US$ 20 bilhões, parem de destruir a floresta. E se vocês (Brasil) não pararem, então vocês sofrerão significativas consequências econômicas'”, afirmou Biden.
Embora seja contundente e direta, essa não é a primeira declaração que o democrata ou sua vice, Kamala Harris, fazem críticas diretas ao Brasil ou a Bolsonaro por conta da destruição ambiental. A atual chapa democrata é considerada a mais crítica a um governo brasileiro na história da relação entre os dois países.
Família
As famílias dos dois candidatos se tornaram combustível para o debate. Primeiro, ao dizer que Biden não seria capaz de lidar com a atual disputa global com a China, Trump afirmou: “A China comeu seu almoço, Joe. Não é à toa que seu filho vai (à China) e tira bilhões de dólares. Tira bilhões de dólares para administrar (negócios). Ele faz milhões de dólares”.
O comentário é uma alusão aos serviços de consultoria prestados por Hunter Biden, filho de Biden, em países como China e Ucrânia. Os republicanos têm acusado Hunter de tirar proveito da proeminência do pai na política americana para fechar contratos lucrativos no exterior, prometendo algum tipo de tráfico de influência às empresas que o contratam. Biden negou as acusações durante o debate. Até hoje não há comprovação de que exista qualquer crime nesses negócios.
Biden reagiu: “Aqui está o acordo. Você quer falar sobre família e ética? Eu não quero fazer isso. (Sobre) sua família, podemos conversar a noite toda”.
Ivanka, filha de Trump, é uma de suas mais importantes assessoras na Casa Branca e o genro do presidente, Jared Kushner, é seu conselheiro para assuntos internacionais. Trump se defendeu dizendo que seus parentes “perderam uma fortuna” para ajudá-lo na administração do país.
Mais adiante, foi a vez de Biden citar outro de seus filhos, Beau, como um exemplo de herói americano por ter servido o Exército na guerra do Iraque. Biden queria fustigar Trump, acusado de ter chamado veteranos de guerra feridos ou soldados americanos mortos de otários e perdedores. Em resposta, Trump acusou Hunter Biden de ter sido expulso das Forças Armadas por uso de cocaína. Biden reconheceu que o filho sofreu com dependência química.
“Meu filho, como muita gente, como muita gente que está em casa, teve problemas com drogas. Ele superou isso. Ele consertou. Ele trabalhou nisso. E estou orgulhoso dele”, disse Biden.
Saiba mais em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-54352435
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