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Trump com Covid: empatia pela pessoa menos empática do mundo?

Por cerca de um minuto hoje eu me peguei sentindo pena de Donald Trump. O pobre homem agora está “lutando” contra a Covid-19 (o verbo pugilístico – battling – está aparecendo em todos os noticiários).

Por Robert Reich 

Por cerca de um minuto hoje eu me peguei sentindo pena de Donald Trump. O pobre homem agora está “lutando” contra a Covid-19 (o verbo pugilístico – battling – está aparecendo em todos os noticiários). Está no hospital. Está fora de forma. Tem 74 anos. Seu chefe de gabinete qualifica seus sintomas de “muito preocupantes”.

Joe Biden está orando por ele. Kamala Harris lhe envia votos sinceros que se recupere. O presidente Obama nos lembra que estamos todos juntos e queremos ter certeza de que todos estão saudáveis.

Mas esperem! Por que devemos sentir empatia por uma das pessoas menos empáticas do mundo?

Por respeito. Ele é um ser humano. E ele é nosso presidente.

No entanto, há uma assimetria aqui. Embora a campanha de Biden tenha eliminado todos os anúncios negativos na televisão, os anúncios negativos da campanha de Trump continuam sem parar.

E quase ao mesmo tempo que Biden, Harris e Obama ofereceram orações e palavras de consolo, a campanha de Trump explodiu “Lyin ‘Obama [Obama mentiroso] e Phony Kamala Harris [Kamala Harris impostora]” e acusou “Sleepy Joe [Joe dorminhoco] não é adequado para ser SEU presidente.”

Você pode imaginar se Biden tivesse contraído Covid em vez de Trump? Trump estaria em cima dele. Ele atacaria Biden como fraco, debilitado e velho. Ele zombaria do uso da máscara de Biden – “Vejam, máscaras não funcionam!” – e ridicularizaria sua relutância em realizar comícios ao vivo: “Acho que ele pegou Covid no porão da casa dele!”

Como podemos ter certeza de que Trump tem a doença? Ele já mentiu sobre tudo. Talvez ele reapareça em um ou dois dias, revigorado e relaxado, dizendo “Covid não é grande coisa”. Ele vai dizer que tomou hidroxicloroquina e isso o curou. Ele se gabará de ter vencido a “batalha” contra a Covid porque ele é forte e poderoso. [NT: Esse texto de Reich foi publicado no domingo, antes de Trump deixar o hospital]

Enquanto isso, sua “batalha” distraiu a nação das revelações de que ele é um trapaceiro que pagou apenas US$ 750 em impostos em seu primeiro ano de mandato, e quase nada nos quinze anos anteriores; e que ele é um empresário falido que ainda está perdendo dinheiro.

Distraiu a todos, também, de seu desempenho debate cruel e constrangedor no debate da semana passada, no qual ele não quis condenar os supremacistas brancos.

Até desvia nossa mente do principal motivo pelo qual a Covid está fora de controle nos EUA: porque Trump fez tudo errado.

Ele menosprezou a gravidade, empurrou a responsabilidade para os governadores e depois exigiu que os estados permitissem a reabertura das empresas – muito cedo – para que a economia parecesse boa antes das eleições.

Ele amordaçou e contestou especialistas do CDC [Centro de Controle de Doenças], promoveu curas excêntricas, realizou eventos de campanha sem máscara e encorajou seguidores a não usarem máscaras. Tudo isso contribuiu para dezenas de milhares de mortes desnecessárias de norte-americanos.

A “batalha” de Trump com a Covid também desvia a atenção das perversões dele e de Mitch McConnell para a democracia norte-americana.

Aqui a assimetria é mais profunda. McConnell está agora se movendo para confirmar a indicada de Trump para a Suprema Corte, Amy Coney Barrett, depois de ter impedido um candidato indicado por Obama de obter uma votação no Senado por quase um ano com base em uma “regra” inventada de que o próximo presidente devia decidir.

Mesmo assim, Biden não vai falar em aumentar o tamanho do tribunal para equilibrar as forças na Corte Suprema, e os líderes democratas rejeitaram a ideia.

Veja em: https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Pelo-Mundo/Trump-com-Covid-empatia-pela-pessoa-menos-empatica-do-mundo-/6/48929

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