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A aposta do novo presidente da Bolívia no lítio para reviver boom econômico de quando era ministro de Evo

Apesar de os resultados oficiais ainda não terem sido proclamados, a Bolívia já tem um vencedor na eleição presidencial realizada no domingo (18/10): Luis Arce, que foi ministro da Economia durante a Presidência de Evo Morales, comemora o triunfo após seus principais oponentes terem reconhecido publicamente a derrota.

Por Marcia Carmo

Agora, Arce se prepara para assumir o posto e botar à prova uma de suas principais bandeiras de campanha: a aposta na industrialização e na produção do lítio para reviver o boom econômico de quando foi ministro, como ele mesmo enfatizou na reta final da disputa.

“Com a industrialização do lítio, vamos gerar 130 mil novos postos de trabalho diretos e indiretos, além de 41 novas indústrias que vão gerar ainda mais emprego para os bolivianos”, disse Arce.

Estima-se que a Bolívia tenha uma das maiores reservas deste metal leve usado em baterias como as de celulares e de automóveis elétricos. O governo Evo tinha chegado a acordos com uma empresa da Alemanha e outra da China para a exploração e produção do produto, que seriam realizadas em parcerias, mas mantendo-se o controle o estatal.

A anulação da eleição presidencial do ano passado levou ao congelamento dos acordos, segundo o ex-presidente. Ele e Arce afirmaram em entrevistas e em suas redes sociais que a eleição teria sido anulada como resultado do “golpe do lítio” porque envolveria interesse de empresas americanas que estariam de olho nessa produção.

“Não foi um golpe contra o indígena, mas pelo lítio. (‘O golpe’) foi desenhado por transnacionais interessadas na sua privatização junto com a do gás”, disse Arce, recentemente.

Mas, afinal, o lítio pode efetivamente levar a um novo salto econômico boliviano?

Ouro branco‘ ou ‘fetiche’?

Em entrevista à BBC News Brasil, três especialistas no assunto deram opiniões diferentes sobre a possibilidade de o lítio, chamado de ‘ouro branco’, ser a alavanca que reerguerá a economia boliviana que este ano deverá registrar a maior queda da sua história – cerca de 10%, segundo o Banco Central do país, e em torno de pelo menos 6%, de acordo com levantamentos internacionais.

O ex-gerente executivo da empresa estatal Yacimientos de Lítio Bolivianos (YLB), durante o governo Evo, Juan Carlos Montenegro, disse que as reservas estimadas de lítio foram comprovadas por organismos do governo americano e por empresas nacionais e estrangeiras.

“Nosso projeto envolve 14 fábricas, que serão o núcleo da industrialização do lítio, até 2025. Essas fábricas vão demandar insumos, como lâminas de cobre, e então serão necessárias as plantas destes insumos e mais outras sete de seus derivados. É um projeto grande para atender à demanda mundial e para isso queremos contar com a participação privada”, disse Montenegro.

Protesto sindical com bandeira colorida
Legenda da foto,Sindicatos e organizações camponesas pediram eleições desde a saída de Evo

Segundo ele, seriam necessários investimentos de US$ 4 bilhões para este núcleo da produção e o país deverá ter rendimentos de pelo menos US$ 6 bilhões anuais pela produção de lítio e suas ramificações.

Até o ano passado, disse, antes da troca de governo na Bolívia, o país já contava com cerca de 1.200 empregos diretos ou indiretos, uma fábrica piloto e uma em desenvolvimento no Salar de Uyuni, no departamento de Potosí, na fronteira com o Chile.

“Mas nossas projeções de continuar crescendo foram interrompidas pelos fatos políticos do ano passado. Agora, porém, com a eleição de Arce serão retomadas”, disse Montenegro, que é engenheiro metalúrgico.

O ex-ministro da Energia, Mauricio Medinaceli, analista do setor, disse que o lítio está longe de gerar os recursos gerados pelo gás boliviano.

“Apesar da queda nos investimentos e na produção, o gás ainda é um fator muito importante para a economia boliviana. O lítio ainda não apresentou resultados concretos”, disse Medinaceli. Ele ressalvou, porém, que o custo para extração do lítio da Bolívia tem a vantagem sobre os outros países, como os asiáticos, por exemplo.

Saiba mais em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-54609286

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