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Meio ambiente: inimigo a ser abatido

Todas as religiões que acreditam num Deus transcendente afirmam que o homem foi criado à imagem de Deus para cuidar de seu semelhante e da casa comum, a natureza.

Por Liszt Vieira

Todas as religiões que acreditam num Deus transcendente afirmam que o homem foi criado à imagem de Deus para cuidar de seu semelhante e da casa comum, a natureza. E as tradições religiosas com visão imanente de Deus também defendem a proteção do meio ambiente numa visão integrada do homem com a natureza.

Grandes líderes religiosos se destacaram na defesa da proteção ambiental. Por exemplo, o Dalai Lama e, principalmente, o Papa Francisco, com sua extraordinária Encíclica Laudato Si.

A ruptura dessa visão integrada homem-natureza deu-se, depois do Renascimento, pela forte influência do cartesianismo a partir do século 17 em diante. Descartes afirmou que o homem é o senhor e mestre da natureza. O homem é o sujeito, a natureza o objeto. A visão antropocêntrica moderna trouxe avanços científicos notáveis com o “desencantamento do mundo”, na expressão de Max Weber, mas abandonou a visão holística que existiu na Antiguidade Grega desde os pré-socráticos. O homem e a natureza eram vistos como um conjunto inseparável, a Physis.

Essa visão integrada do homem com a natureza da Grécia Antiga transformou-se, na Modernidade, numa visão mecanicista e reducionista. O modelo de Ciência daí decorrente predominou até o século XX e acabou se esgotando por suas próprias limitações. Hoje, a teoria dos sistemas, a física quântica, a termodinâmica e o pensamento complexo abriram perspectivas para uma nova forma de Ciência que reaproxima o ser humano da natureza. O ponto de vista sistêmico da antiga Physis grega e das tradições religiosas ressurge nos sistemas ambientais.

A Questão Ambiental surge a partir da Revolução Industrial e seu impacto na natureza. Mas não foi percebida no século 19. Os grandes pensadores que influenciaram as ideologias que predominaram no século 20 – o liberalismo, o utilitarismo empirista e o socialismo – como Adam Smith, David Hume/Stuart Mill, e Karl Marx, principalmente, não analisaram o meio ambiente como uma questão em si.

O século 20 esteve ocupado com duas Guerras Mundiais, a Primeira Guerra de 1914 a 1918, e a Segunda Guerra de 1939 a 1945. Só na segunda metade do século é que a destruição ambiental foi percebida como um problema real. Ainda assim, foi rejeitada pelos partidos políticos, de direita ou esquerda, que não aceitaram a existência de uma questão ambiental, pois só enxergavam o problema econômico ou social desligado de seu impacto ambiental.

Essa visão holística é retomada a partir da influência de pesquisadores científicos e movimentos sociais de defesa da natureza que denunciaram os desastrosos impactos ambientais da produção econômica, capitalista ou socialista. A noção de sustentabilidade adquiriu força com o apoio das Conferências Internacionais de Meio Ambiente – desde a Conferência Rio-92 até os Acordos de Paris de 2015 – que mostraram a catástrofe iminente da crise climática e da perda da biodiversidade.

O órgão da ONU sobre a crise climática, denominado Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (conhecido por IPCC, na sigla em inglês), calcula que o aquecimento global está hoje em torno de 1,5 graus, o que provoca graves perturbações no clima, como secas, inundações, calor extremo etc. A tendência é chegar breve a 2 graus, o que agravaria os desastres climáticos. Acima disso, será um desastre, se não houver mudanças drásticas para evitar as emissões de gases de efeito estufa, principalmente pelo desmatamento de florestas e pelo uso de combustível fóssil. E existem previsões pessimistas de que o aquecimento global pode chegar a 4 ou 5 graus, o que seria catastrófico.

No caso do Brasil, quase metade das emissões de gases de efeito estufa vem do desmatamento. Em 2020, haverá um aumento de 10 a 20% nas emissões, o que é muito grave, tendo em vista a redução da atividade econômica pela pandemia.

Segundo dados de 2018 do SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa) e do Observatório do Clima, a Agropecuária, Mudança no Uso da Terra e Energia são os maiores vilões.

Fonte: Seeg/Observatório do Clima

As emissões per capita brutas no Brasil – 9,3 toneladas/ano em 2018 ainda são mais altas do que a média mundial – 7,2 toneladas/ano. A intensidade de carbono da economia brasileira também é maior: enquanto o mundo gerava US$ 1.484 por tonelada de CO2 emitida em 2015, o Brasil gerava US$ 970.

Saiba mais em: https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Mae-Terra/Meio-ambiente-inimigo-a-ser-abatido/3/49042

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