Em livro da cantora e ativista, as angústias e resistência dos 108 dias em que ficou presa. Filha de Carmem Silva, fundadora Movimento Sem Teto do Centro de São Paulo, foi uma das diversas lideranças vítimas de injusta perseguição
Por Caê Vasconcelos
24 de junho de 2019 é um dia que Preta Ferreira, 36, não vai esquecer. Foi quando Preta foi presa com mais três lideranças do movimento de moradia de São Paulo. Uma prisão injusta que tirou 108 dias de sua liberdade. Quando foi presa, Preta já era cantora, compositora, atriz, produtora, publicitária e ativista. A prisão a torna, agora, escritora.
Em Minha Carne – Diário de uma prisão, Preta traz suas dores e angústias dos dias de cárcere. Mas, criada em ocupações, ela sabe desde cedo que a luta também tem seu lado bonito.
É grito pela sua liberdade: Liberdade Pretas. No plural. Preta é Maria Gadú, Allyne Andrade e Silva, Erica Malunguinho, Conceição Evaristo, Angela Davis, Juliana Borges, Carmen Silva. Cada um desses nomes fazem parte dessa obra, que chega às livrarias pela editora Boitempo nesta segunda-feira (18).
Depois de três páginas de agradecimentos, Minha Carne – Diário de uma prisão se inicia com o prefácio de Juliana Borges, escritora e especialista em sistema prisional. Ao lado do prefácio, uma foto da família Ferreira, trazendo Carmen Silva, matriarca da família e fundadora do MSTC (Movimento Sem Teto Do Centro), responsável pela Ocupação 9 de Julho, ao centro. A quarta capa tem textos de Angela Davis, Allyne Andrade e Silva, Maria Gadú e Carmen Silva.
Depois, o leitor é convidado a conhecer a infância de Janice Ferreira da Silva, seu nome de batismo, e o início da sua trajetória no MSTC. No capítulo “Retrato”, Preta conta como sua família mudou de Salvador para construir lar em São Paulo, em 1999.
Em entrevista à Ponte, Preta explica a importância desse capítulo. “Eu quis trazer a minha infância para que as pessoas entendam mais sobre movimento de moradia e como as pessoas vão parar no movimento de moradia”.
“Comecei o livro para mostrar porque mulheres estão ocupando, porque mulheres precisam de movimentos de moradia. Eu narro a história de como aconteceu tudo porque sabemos do pré-julgamento, iam querer saber os motivos que Carmen Silva foi parar lá e por que levou seus filhos”, completa.
Preta narra o tempo-espaço que separou o seu nascimento do seu renascimento. Ela lembra, no livro, que os policiais sabiam da sua inocência, já que afirmavam que ela só precisaria prestar depoimento. “Foi o depoimento mais longo da história: 108 dias”.
Na sequência, o diário dos dias de cárcere. “Escrever esse diário foi uma forma de não me silenciar. Escrevi para eu não esquecer nada do que tava acontecendo comigo, para ser fiel ao que eu senti. Queria que as pessoas tivessem o mesmo sentimento que eu tive”, define Preta.
Logo no começo do diário, Preta conta que, na noite anterior da prisão, estava com Monica Benício, viúva de Marielle Franco e agora vereadora do Rio de Janeiro. Ela e Monica viram juntas um jogo da seleção feminina de futebol. Ligaram para a produtora Lua Leça, amiga das duas, para jogar conversa fora. Monica levou Preta para casa às 3h. Às 6h, a polícia batia a sua porta.
Nas páginas seguintes, Preta conta, passo a passo, os momentos no DEIC (Departamento Estadual de Investigações Criminais), na zona norte da cidade, onde foi presa, o longo depoimento, passando pela expectativa que tinha de ser solta até o dia 28 de junho.
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