Seguimos à deriva numa nave sem comandante e sem carta de navegação
Por Silvio Tendler
Graciliano Ramos escreveu que o esporte nacional não deveria ser o futebol mas a rasteira, esporte pelo qual passar a perna no próximo é virtude.
Furar a fila para a vacina ou engavetar 60 pedidos de impeachment não fazem diferença. Trata-se da construção do Estado de bem estar individual.
A política deixou de ser um programa de ação ideológico para converter-se num trampolim de sucesso pessoal.
A transferência de renda dos pobres para os ricos, cuja diversão é acumular fortunas, é encarada com naturalidade.
A solidariedade é praticada com a parcimônia necessária para não aparentarmos indiferença diante da miséria alheia.
Quando ligo a televisão e vejo os comentaristas políticos e especialistas discutindo a estratégia de vacinação contra o coronavirus me sinto o mico leão dourado ou a ararinha azul da vez, espécies em extinção.
Nunca a humanidade esteve tão ameaçada, enquanto o gado segue passando. Nesse momento, milhões de pessoas passam necessidades; dormem pelas ruas, catam comida no lixo enquanto um “investidor” termina de ganhar seu primeiro milhão do dia, no cassino financeiro.
Nos anos 50 o projeto desenvolvimentista de JK modernizou o país. Em 1960, Juscelino entregou um país moderno e democratizado.
Em 1961, João Goulart, o vice-presidente de Jânio Quadros foi à China em missão oficial. Foi o primeiro dirigente político ocupando o executivo de um país ocidental a visitar a China, em plena Guerra Fria.
Lá conheceu Mao Ze Dong e o projeto chinês de desenvolvimento. No Museu da Revolução aprende que “a Golpes de foice e machado construiriam um mundo novo”. Ali, nos anos 60, viu o futuro nascendo.
A história brasileira parece código morse quando a democracia brasileira é entrecortada por óbices, intervenções e golpes militares: 54, 55, 56, 59, 61, 64, 65, 68, 77, etc, etc, etc.
Prisões, cassações, exílios, empastelamento de jornais, atentados, tortura, assassinatos, desaparecimento de opositores, fechamentos do congresso, do Supremo, intimidações, deposições de presidentes da República, assassinato de operários, invasão de favelas, interferência no processo eleitoral – antes que me perguntem cito a ameaça do General Villas Bôas ao STF, etc, etc, etc.
Enquanto a nação purga uma política econômica desastrosa, o desmantelamento do parque industrial, o desemprego, a inflação, a destruição da educação, da arte, da cultura e da ciência, os militares recebem uma fortuna para promover uma festa de arromba, com direito a pizza, pudim de leite condensado e “chiclé”.
Na França, durante os anos 70, o exército francês tentou desapropriar pequenas propriedades rurais na região do Larzac, para expandir um campo de treinamento militar. Um amigo documentarista, Philippe Haudiquet, resolveu fazer um documentário. Perguntei a razão do filme e ele me explicou, “por uma questão de civilidade”.
Poupem os símbolos nacionais desse mais recente vexame e adotem a bandeira furta-cor como símbolo dessa desgovernança. Seguimos à deriva numa nave sem comandante e sem carta de navegação.
Saiba mais em: https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Os-simbolos-nacionais-e-a-desconstrucao-da-nacao/4/49811
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