O trabalho de reprodução, muitas vezes feminino e invisível, é submetido ao de produção. E se fosse o contrário? Mudar a hierarquia — e implementar em paralelo uma Renda Básica — teria potencial e transformar a sociedade e a natureza
Durante debate sobre como construir uma Economia da Cultura, do Conhecimento, da Ciência e dos Afetos, Tatiana Roque, economista e vice-presidente da Rede Brasileira de Renda Básica, apresentou uma alternativa. Que o centro da economia se deslocasse do setor de produção para o de reprodução. Articulando com ideias da filósofa Silvia Federici, relembrou que a teoria marxista não deu a devida atenção ao trabalho de cuidado e reprodução — invisível e não-remunerado — que garante a força de trabalho que é explorada no capitalismo. Relacionou esse tipo de trabalho — que nem é visto como tal — com o das artes e da cultura. E propôs: e se a hierarquia fossa virada de ponta cabeça?
Tatiana analisa que as teorias econômicas que estão sendo desenvolvidas e visam transformar a relação com o meio ambiente — como a economia circular, a economia do compartilhamento, a economia de rosquinha — têm o defeito de centrar-se sempre no produto, e não nas pessoas. Em um mundo cujos recursos são escassos e podem chegar ao fim, o produto não pode ser o elemento central. Dessa maneira, seria preciso repensar “a questão do trabalho, a questão da redução da jornada, a questão da Renda Básica, a questão da remuneração, de uma maneira que unifique todos esses trabalhos reprodutivos e submeta a produção à reprodução”.
A fala de Tatiana Roque está no vídeo acima. A série continua na próxima terça-feira, 16/3. Leonardo Foletto, jornalista, professor e pesquisador, editor do site BaixaCultura desde 2008, integrante da CCD Porto Alegre, do Creative Commons Brasil e do LabCidade (FAU-USP), continua a conversa sobre os trabalhos sofisticados da cultura e do conhecimento.
Veja em: https://outraspalavras.net/videos/tatiana-roque-sugere-inverter-a-logica-da-economia/
Comente aqui