O racismo está a aumentar na Europa, diz a própria União Europeia. O discurso de ódio online, que seria inaceitável no passado, é hoje uma manifestação quotidiana. Vai em crescendo, na proporção em que são disseminadas as posições racistas dos partidos de extrema direita que atraem mais eleitores a cada eleição. As vastas camadas das classes médias são estimuladas a ver os imigrantes como uma das principais causas dos seus problemas pessoais e das cidades cada vez mais violentas
Por Celso Japiassu / Créditos da foto: (Reuters)
Volto ao tema do racismo no velho continente do qual já tratei no ano passado.
Não chega a apresentar-se como traço cultural, fundador de uma mentalidade social, como em alguns estados do Sul dos Estados Unidos. Nem como política dominante como o foi na África do Sul durante o apartheid, mas o racismo está presente na Europa e se manifesta contra negros, ciganos, árabes e por extensão contra todos os povos morenos que habitam ou há pouco vieram habitar o continente.
(Reprodução/brainstudy.info)
O racismo e seus irmãos de sangue – a discriminação, a xenofobia, a intolerância e o antissemitismo – são a principal preocupação e a causa da existência de várias entidades de direitos humanos e também da Comissão Europeia contra o Racismo e a Intolerância (CERI), criada pelo Conselho da Europa.
O discurso de ódio veiculado pelas redes sociais, diz aquela comissão, é agora uma ocorrência quotidiana e ameaça o debate democrático que está a ser minado por opiniões cada vez mais polarizadas. O ódio contra muçulmanos e judeus está a ganhar espaço, os membros das comunidades negras da Europa enfrentam preconceitos e discriminação e as medidas adotadas para os ciganos têm fracassado diante da pobreza e a da marginalização. As mulheres são as principais vítimas.
A invenção de termos que buscam a correção, como afrodescendentes, afroeuropeu e outros daí derivados não diminuem o preconceito e são, a meu ver, hipócritas e também racistas.
Ataques
Na Hungria, várias comunidades ciganas foram atacadas e na França um coletivo de associações de africanos fez uma manifestação na cidade de Saint-Étienne em protesto contra a morte de um jovem imigrante de Gambia, atacado por um grupo de pessoas. A polícia diz que por motivação racista. E na Alemanha, na cidade de Hanau, dez estrangeiros foram mortos num ataque que também teve motivação racista. Em Portugal, um país conhecido pela sua tolerância, o ator negro Bruno Candé foi assassinado à queima-roupa por um homem na rua principal de Moscavide. O caso mais recente foi o das ameaças de morte enviadas a vários dirigentes antirracistas, entre eles Mamadou Ba, dirigente da SOS Racismo.
A Rede Europeia Contra o Racismo considera que é necessária uma “resposta institucional urgente” por parte das autoridades e do governo: “Nos últimos meses tem havido um aumento muito preocupante de ataques racistas de extrema-direita em Portugal, confirmando que as mensagens de ódio estão a alimentar táticas mais agressivas que visam os defensores dos direitos humanos de minorias raciais.”
(AFP)
O racismo está a aumentar na Europa, diz a própria União Europeia. O discurso de ódio online, que seria inaceitável no passado, é hoje uma manifestação quotidiana. Vai em crescendo, na proporção em que são disseminadas as posições racistas dos partidos de extrema direita que atraem mais eleitores a cada eleição. As vastas camadas das classes médias são estimuladas a ver os imigrantes como uma das principais causas dos seus problemas pessoais e das cidades cada vez mais violentas. A Agência Europeia para os Direitos Fundamentais salienta que um número elevado de pessoas em toda a UE é alvo de agressões simplesmente devido às suas origens, crenças, opções de vida ou ao seu aspecto físico. São mencionados insultos, agressões físicas ou mesmo homicídios motivados pelo preconceito.
Um Inquérito sobre Minorias e Discriminação na União Europeia com 23 500 inquiridos com origem numa minoria étnica ou de origem imigrante, concluiu que grande parte dos grupos pesquisados foram vítimas de crimes de motivação racista (agressão, ameaça ou assédio grave) ao longo dos 12 meses anteriores: ciganos na República Checa; somalis na Finlândia; somalis na Dinamarca; africanos em Malta; ciganos na Grécia; ciganos na Polónia e africanos subsaarianos na Irlanda.
No futebol
Uma atividade esportiva que teria por vocação a união e o congraçamento pode transformar-se em espetáculos de violência, ataques e discriminação. Os campos de futebol têm sido palco privilegiado de manifestações racistas entre jogadores e torcidas, principalmente contra jogadores negros, chamados muitas vezes de macacos e contra quem são atiradas cascas de banana. Os preconceitos afloram num evento que deveria ser por natureza festiva e transformam-se em cenário de trágicos acontecimentos dentro e fora de campo.
(Reprodução/Twitter)
Torcedores búlgaros fizeram saudações nazistas e imitaram macacos nas eliminatórias do Euro-2020, que por duas vezes foram paralisadas; o brasileiro Dalbert, jogador do Fiorentina, ouviu gritos de macaco dos torcedores do Atalanta; no momento de bater um pênalti, Romelu Lukaka, da Inter de Milão, foi alvo de gritos de macaco da torcida do Cagliari; o brasileiro Fred sofreu ofensas durante a partida entre Manchester United e Manchester City pelo campeonato inglês; “vai embora, negro sujo”, gritou o branco Jérôme Prior, do Valenciennes, para Ousseynou Thiouné, do Sochaux, num jogo pelo campeonato da França. Em Portugal, o jogador do FC Porto, o maliano Moussa Marega, abandonou o jogo contra o Vitória de Guimarães depois de torcedores desse clube terem lhe gritado insultos racistas.
Para tratar do problema, a UEFA – União das Associações Europeias de Futebol (em inglês: Union of European Football Associations) publicou uma Resolução: Futebol Europeu unido contra o racismo lembrando que um dos seus objetivos fundamentais é promover o futebol na Europa num espírito de paz, entendimento, fair play e sem nenhum tipo de discriminação. E afirma que terá tolerância zero face ao racismo. Prevê uma suspensão de dez jogos para o jogador responsável por atos racistas e recomenda que os árbitros devem interromper, suspender ou até abandonar um jogo, em caso de ocorrência de incidentes racistas.
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