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A crise atrai os oportunistas

Eles aproveitam a crise do coronavírus e a ajuda oferecida pelo governo para obter vantagens, mesmo que isso comprometa o futuro do país depois da pandemia, analisa Alexander Busch.

O Brasil ainda está bem distante do auge da crise do coronavírus. Até agora, tudo indica que ela vai atingir os brasileiros em cheio – na saúde, mas também na economia. Depois de um começo relutante, o governo está reagindo e anuncia quase todos os dias novos pacotes de ajuda, crédito, incentivos fiscais e reduções de tarifas.

A crise é também uma oportunidade, ouve-se agora constantemente. Só que, no Brasil, o que vale é: a crise é uma oportunidade – mas especialmente para os oportunistas, que, na esteira da covid-19, tentam enriquecer ou obter vantagens às custas da coletividade.

Não me refiro a tentativas abertamente criminosas, como os links enganosos para um suposto registro para cadastrar pessoas para o auxílio emergencial de R$ 600 oferecido pelo governo aos trabalhadores informais. Desde março, o golpe para obter dados pessoais e bancários já tem 6,7 milhões de compartilhamentos.

Eu me refiro aos grupos de lobby bem organizados, que vão agora tentar obter uma fatia da ajuda estatal apesar de terem sido bem pouco ou nem mesmo terem sido atingidos pela crise. Por exemplo os fazendeiros, que vão exigir mais empréstimos e prazos ampliados de devolução, mesmo sem terem tido quebras significativas. Ao contrário: as exportações de soja cresceram no primeiro trimestre, na comparação com o mesmo período do ano anterior. Açúcar, café e suco de laranja estão com preços elevados.

Entre os oportunistas estão também as empresas que agora anunciam que não vão mais pagar seus aluguéis e que reiteram que não podem ser despejadas até o fim do ano – mesmo que elas, isoladamente, não sejam muito afetadas pela crise. Na dúvida, ainda poderão contar com uma Justiça muito compreensiva.

Outra situação bizarra é quando a Associação Brasileira das Empresas Importadoras de Veículos Automotores (Abeifa) exige redução nas tarifas de importação para os seus carros, que ficaram caros por causa da desvalorização do real.

Para que não fiquem dúvidas: o governo pode e deve ajudar empresas, tanto micro e pequenas como médias e grandes, e também autônomos para que possam manter seus funcionários e evitar demissões. Isso vale também para a ajuda social: investimentos públicos no SUS e uma ampliação da transferência de renda são necessários para a sobrevivência. O Brasil poderá passar por uma revolta social se os R$ 600 prometidos não chegarem logo às mãos dos mais pobres.

 Saiba mais em: https://www.dw.com/pt-br/a-crise-atrai-os-oportunistas/a-53082010

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