Enquanto o país assista passivo a expansão do vírus, município fluminense armava-se contra crise anunciada. Treinou servidores da saúde, comprou testes, criou hospital exclusivo e foi pioneiro na implementação da renda básica
OUTRASMÍDIAS OUTRA POLÍTICA por DW Brasil
Por Bruno Lupion, na DW Brasil
No final de janeiro, quando a China anunciou o isolamento total de Wuhan, cidade de 11 milhões de habitantes onde surgiu a covid-19, para a grande maioria dos brasileiros as imagens de avenidas desertas e comércios fechados ainda pareciam um problema distante. Mas, na mesma semana, a prefeitura de Niterói, no Rio de Janeiro, criava um grupo de resposta rápida para acompanhar e planejar como a cidade deveria reagir se o vírus chegasse até lá.
Esse grupo, vinculado à Secretaria Municipal de Saúde, começou a compilar publicações acadêmicas sobre a infecção, desenvolver um plano de contingência para reagir à eventual contaminação de seus moradores e treinar servidores da área de saúde. Era uma iniciativa de precaução, mas que acabou abrindo caminho para a cidade se destacar na adoção de políticas públicas antecipadas para lidar com a pandemia.
Entre essas medidas, Niterói anunciou, em 18 de março, que pagaria uma bolsa de 500 reais a seus moradores mais pobres – quando, a nível federal, o governo ainda discutia se iria oferecer algum suporte aos brasileiros desassistidos por meio do Bolsa Família ou de um outro auxílio específico.
O município preparou ainda o primeiro hospital exclusivo do país para o atendimento de pacientes do coronavírus e comprou 40 mil testes de covid-19 para fazer testagem em massa, com o objetivo de chegar a 80 mil testes, ou seja, alcançar 16% de sua população.
No total, as iniciativas de Niterói para atenuar os efeitos do coronavírus na saúde pública, na economia e na estrutura social custarão até 300 milhões de reais, pouco menos de 10% do orçamento anual da cidade, de 3,6 bilhões de reais, afirma à DW Brasil o secretário de Planejamento da cidade, Axel Grael (PDT).
O orçamento municipal da saúde será incrementado em 150 milhões de reais, alta de 30% em relação ao valor inicial. Niterói é uma cidade relativamente rica, com um forte setor de serviços e parte das empresas da cadeia produtiva de petróleo e gás do país.
“Na época da criação do grupo de resposta rápida, ninguém tinha ainda a dimensão que essa pandemia alcançaria, mas isso nos deu uma vantagem importante: quando o vírus chegou, já tínhamos um planejamento e uma reflexão sobre como agir”, afirma Grael, que é irmão dos iatistas e medalhistas olímpicos Lars e Torben Grael.
O primeiro caso de um morador da cidade infectado pelo coronavírus foi confirmado em 7 de março, e na semana seguinte a prefeitura iniciou o processo de isolamento social da população. O secretário municipal de saúde da cidade, Rodrigo Oliveira, avalia que o feriado de Carnaval, entre os 21 e 25 de fevereiro, foi um elemento importante para a chegada do vírus. “É uma época em que muitos estrangeiros vieram ao Brasil, e na qual brasileiros também viajaram ao exterior”, diz.
Saiba mais em: https://outraspalavras.net/outrasmidias/niteroi-modelo-brasileiro-no-combate-a-covid/
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