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A Revolução Mexicana foi o maior levante camponês da América

A Revolução Mexicana eclodiu há 110 anos, quando o povo se rebelou contra o despotismo e a desigualdade. O México foi o primeiro país a nacionalizar sua indústria petrolífera e graças a reforma agrária, a oligarquia latifundiária foi destruída junto com o antigo Exército – tornando-se um dos poucos países latino-americanos a não ter golpes militares no século XX.

Por Claudio Lomnitz / Tradução Giuliana Almada

ARevolução Mexicana começou há 110 anos, em resposta a um convite formal que se desdobrou lentamente em uma confusão incontrolável. Seu líder, o abastado Francisco Madero, emitiu a convocação em seu Plano de San Luis: “Em 20 de novembro, a partir das 18 horas, todos os cidadãos da República pegarão em armas para derrubar as autoridades que nos governam”.

Poderia muito bem ter dito: “O Sr. e a Sra. Madero solicitam gentilmente sua distinta presença para o início da Revolução Mexicana; por favor, RSVP ao Comitê Anti-Reeleição local”.

Porém, em vez de convocar uma sociedade civil tão comportadinha, o chamado de Madero foi respondido por um elenco de personagens que contribuiu para diversificar aquela cena hollywoodiana: bandidos-heróis como Pancho Villa; um vilão embaixador gringo golpista; e o próprio Francisco Madero, que recebeu suas ordens de marcha em sessões espiritas. Houve também o arquitraidor, alcoólatra e segundo presidente indígena do México, o general Victoriano Huerta, que mandou matar seu chefe, o gentil Madero; e o velho general patriarca Porfirio Díaz, que teve o desatino de tentar a reeleição pela oitava vez. A lista é quase interminável: líderes camponeses como Emiliano Zapata; manipuladores espertos como Venustiano Carranza… todos entrando em uma luta pela sobrevivência, ou para acabar uns com os outros — como Chronos, a Revolução Mexicana devorou todos os seus filhos.

A Revolução colocou as contradições do México em evidência. Era uma guerra moderna, mas ao contrário da Primeira Guerra Mundial, sua contemporânea, a modernidade da Revolução Mexicana às vezes deixava escapar um cheiro de algo barato, de segunda mão. No lugar das impressionantes “Grandes Berthas” da Krupp, as armas mais importantes da Revolução Mexicana eram as “carabinas .30-30” das antigas, provenientes das sobras da Guerra Hispano-Americana de 1898 do Exército estadunidense.

A despeito dessas quinquilharias, porém, a Revolução Mexicana foi uma guerra moderna, servindo para retocar a imagem cuidadosamente cultivada de modernidade durante trinta anos de ditadura (o “Porfiriato”). O sonho positivista da evolução mexicana foi despedaçado por multidões de camponeses de sombreiro e soldaderas, pegando carona em cima de trens de transporte com seus rebozos [um tipo de xale tradicional], batendo tortilhas e dormindo ou lutando com soldados. De um ponto de vista simbólico, a Revolução Mexicana foi o maior levante camponês do Ocidente.

Também havia jacobinos nessa mistura. Foi uma revolução de fato, não um mero motim; nenhum jacobinismo dura décadas, e nenhuma revolta espontânea é tão longa como a Revolução Mexicana. Na verdade, muito antes de Francisco Madero emitir seu convite à revolta, em 1892, um movimento estudantil da Cidade do México contra a quarta reeleição de Porfirio Díaz já estava fervilhando de jovens aspirantes a revolucionários. Relembrando seus primeiros dias de atividade política, o revolucionário anarquista Ricardo Flores Magón traçou um quadro evocativo do famoso comentário de Karl Marx sobre a história que se repete: “A Marselhesa”, lembrou ele, “era cantada nos alojamentos estudantis, enquanto nas ruas e praças, podia-se ver militantes vestidos como um Marat, um Robespierre, ou um Saint Just”. Vinte anos depois, muitos desses Marats de outrora se juntaram às fileiras da revolução. Com uma parte do levante camponês, e outra parte do movimento de vanguarda, a Revolução Mexicana transformou a ideologia e o imediatismo em uma avalanche que era apropriadamente chamada de “la bola“.

Saiba mais em: https://jacobin.com.br/2020/11/a-revolucao-mexicana-foi-o-maior-levante-campones-da-america/

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