Novo recorde da década inclui aumento das cicatrizes deixadas pelas queimadas em quase todos os municípios acrianos. Fogo atingiu principalmente assentamentos rurais, mas também foi recorde em unidades de conservação.
O Acre finalizou a temporada de fogo de 2020 com mais de 265 mil hectares de áreas queimadas entre janeiro e a primeira semana de novembro, 39,13% a mais que o registrado no mesmo período de 2019 (190 mil ha). Além disso, superou em 15,3% o recorde dos últimos dez anos, em 2010, que teve cerca de 230 mil hectares incendiados.
Os dados são do Projeto Acre Queimadas, do Laboratório de Geoprocessamento Aplicado ao Meio Ambiente (LabGama), ligado à Universidade Federal do Acre (Ufac).
Dos 22 municípios, 21 tiveram aumento da área queimada, em relação a 2019, com destaque para Epitaciolândia, com crescimento de 315%, e Xapuri, terra natal de Chico Mendes, com 160% a mais. Apenas Plácido de Castro registrou diminuição, com 3% de queda.
O município de Sena Madureira lidera o ranking de área queimada em 2020, com 39 mil hectares, 46% mais que no ano passado. Feijó aparece em seguida, com 36 mil hectares em chamas (36% a mais que em 2019). A capital, Rio Branco, com 34 mil hectares incendiados, registrou crescimento de 57% nesse mesmo período.
De acordo com a coordenadora do LabGama, a engenheira agrônoma Sonaira Silva, este ano, 40% das cicatrizes (sinais) deixados pelas queimadas foram em terras desmatadas recentemente, sem qualquer tipo de cultivo até então.
“Esse percentual (40%) era floresta pelo menos até agosto do ano passado e agora a gente identificou como área desmatada e depois queimada. Nesse caso, o fogo é utilizado para limpeza do que foi derrubado da mata”, explica Sonaira.
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As demais áreas queimadas (60%) já eram usadas por grandes propriedades de terra ou para agricultura familiar. “É o fogo que se usa para a limpeza de terrenos já convertidos em pasto ou culturas, por exemplo”, complementa a doutora em florestas tropicais e professora universitária.
Raio-x das cicatrizes
As áreas queimadas também foram analisadas pelo LabGama a partir da classificação fundiária. Os assentamentos são a categoria mais queimada em 2020, seguido das terras públicas, propriedades particulares, unidades de conservação e, por último, as terras indígenas. Todas tiveram crescimento de cicatrizes em relação a 2019.
As unidades de conservação em território acriano tiveram o maior crescimento (63%) de áreas queimadas entre 2019 e 2020 e fecharam a temporada de fogo deste ano com mais de 46 mil hectares incendiados (quase 18% do total).
Entre todas as UCs, a Reserva Extrativista Chico Mendes lidera o ranking das mais queimadas. Criada em 1990, a Resex é símbolo da luta dos seringueiros pela defesa do meio ambiente e do uso sustentável dos recursos naturais. Seu território de quase 10 mil km² perpassa sete municípios do sudoeste do estado e abriga vasta biodiversidade.
Porém, há anos a área sofre uma série de problemas ambientais, como desmatamento, invasões, avanço da pecuária e queimadas. Apenas em 2020, o território que leva o nome do ambientalista assassinado há mais de três décadas teve 28 mil hectares atingidos pelo fogo, sendo responsável por 63% do total de áreas incendiadas em todas as unidades de conservação no estado.
No entanto, a categoria territorial que lidera o ranking de áreas queimadas, pelo segundo ano consecutivo, são os projetos de assentamento rural, com mais de 91 mil hectares (⅓ do total) incendiados. Em relação a 2019, o aumento foi de 53%.
Analista da superintendência do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) no Acre, Luiz Perrut explica que os incêndios nos assentamentos são frutos, principalmente, de invasões que, segundo ele, acontecem na maioria desses territórios.
Saiba mais em: https://www.dw.com/pt-br/acre-encerra-temporada-do-fogo-com-%C3%A1rea-queimada-39-maior-que-a-de-2019/a-55615007
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