In memoriam
Pedro Saviniano da Costa Miranda
☆ 01.01.1953 ♰ 29.05.2020
Cheguei a conhecer Pedro Saviniano em 1989. Naquele ano, coordenei o VII Curso Internacional de Formação de Especialistas em Desenvolvimento de Áreas Amazônicas – FIPAM, realizado no Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA) da Universidade Federal do Pará (UFPA) e organizado pela Organização dos Estados Americanos (OEA) e pela Associação das Universidades Amazônicas (UNAMAZ). Juntando aluna/o(s) graduada/o(s) dos diversos Estados da Bacia Amazônia, O FIPAM VII contava, também, com a participação de Pedro Saviniano. Formado em agronomia pela antiga Faculdade de Ciências Agrárias do Pará (FCAP) e técnico da EMATER, ele se destacava por um olhar clínico da doença do mimetismo em seu próprio campo profissional, analisada por ele magistralmente em sua Monografia O “pensar” extensionista – um caso de cegueira induzida” (Preâmbulo para um estudo crítico da extensão rural no Estado do Pará) que foi publicada em Realidades Amazônicas No Fim Do Século XX (Belém, 1990). * Estes contatos fizeram com que eu tenha convidado o agrônomo paraense para assumir dentro do POEMA a coordenação de um setor agroflorestal, dedicado ao aproveitamento integral dos três espaços (re)produtivos da agricultura familiar, a saber: os quintais, os roçados e as áreas extrativas. Cabe realçar que, no âmbito destas atividades, o Pedro concebeu com a Agricultura em Andares um Sistema Agroflorestal (Saviniano Miranda, Rodrigues 1999)* que, alimentado pela “ciência Kayapô”(D. Posey), pelos conhecimentos das disciplinas agronômicas e florestais bem como pelas experiências locais dos próprios produtores, foi implementado em diversos Municípios do Pará. Qualificado por Jean Dubois, certamente um dos mais conceituados florestais da América Latina, como uma alternativa viável para o universo dos agroextrativistas tradicionais, o Sistema viajou através do setor de cooperação do POEMA pela Bacia Amazônica, tendo se tornado, inclusive, objeto de debates intensos e experimentações práticas com instituições da Amazônia Equatoriana como Natura, Sociedad, Ecociência e Sinchi Sacha, cujos colaboradores sempre receberem Pedro Saviniano de braços abertos e com um enorme respeito em sua condição de agrônomo altamente qualificado da Amazônia brasileira.
Faço questão de realçar que a minha empatia profissional e pessoal foi mantida de forma proativa depois da criação do Programa Trópico em Movimento, concebido, por sua vez, como um mutirão interinstitucional no campo da educação pública. Expressão disso é que ele participou em diversos dos projetos deste programa, fazendo parte, inclusive, da pesquisa-ação “Quintais ecológicos”, elaborada e encabeçada pelo Professor Sergio Nunes da Faculdade de Filosofia da UFPa.
Confesso que a minha tristeza sobre a morte do meu companheiro de alma socialista e amigo paraense – que sempre sabia que a verdadeira nobreza social da Amazônia é representada pelos caboclos e pelos indígenas – mistura-se com um sentimento de alívio, gerado pelo fato dele ter trocado a dor e o sofrimento, causados pela doença, pelo conforto em seus céus africanos, abertos pela mão de Iemanjá. Diante disso, me sobra uma única coisa a fazer: externar minha firme convicção de que a sua lucidez intelectual vai fazer uma enorme falta a todos os colaboradores do Programa Tropico em Movimento…
Thomas A. Mitschein
*Acesso às mencionadas publicações através de download da estante virtual do site www.tropicomovimento.com.br
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