Clipping

‘Alimento para a alma, não só o corpo’: a produção agrícola das 80 roças indígenas na maior cidade do Brasil

Quem pensa na cidade de São Paulo imagina logo sua paisagem ostensivamente urbana, com edifícios altos, avenidas congestionadas e quase nenhum verde.

Thais Carrança

Mas o município guarda dentro de seus limites cerca de 30% de território com características rurais, além de 14 aldeias da etnia Guarani, localizadas em duas terras indígenas: Jaraguá, próxima ao pico de mesmo nome, na região Noroeste da cidade, e Tenondé Porã, no extremo Sul.

Após décadas vivendo em apenas duas aldeias de 26 hectares cada, os Guarani da TI (Terra Indígena) Tenondé Porã iniciaram em 2013 um processo de retomada de terras, com a dispersão por novas aldeias.

Hoje, já são onze no total, oito delas no município de São Paulo, nos distritos de Parelheiros e Marsilac, e outras três na vizinha São Bernardo do Campo.

A terra indígena tem uma população estimada em 2020 de 1,5 mil pessoas, em 15.969 hectares – área equivalente a cerca de 159 quilômetros quadrados, quase o tamanho de Natal (RN), segunda menor capital do país, com 167 quilômetros quadrados.

Mapa
Legenda da foto,Mapa mostra terras indígenas em São Paulo e municípios ao redor

Um estudo inédito produzido por pesquisadores guarani e técnicos do CTI (Centro de Trabalho Indigenista), publicado neste mês de dezembro, mapeou a produção agrícola de seis dessas aldeias localizadas no Sul da cidade: Kalipety, Krukutu, Tape Mirĩ, Tekoa Porã, Tenondé Porã e Yrexakã.

A pesquisa foi contratada pela Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Urbano, responsável pela coordenação do Projeto Ligue os Pontos, com objetivo de conhecer os agricultores desses territórios e dar visibilidade às práticas tradicionais de cultivo.

Segundo o levantamento, nessas aldeias, já são mais de 80 roças indígenas, dedicadas ao cultivo de 190 variedades agrícolas, e quatro em cada dez agricultores guarani são mulheres.

A retomada da agricultura tradicional guarani foi possível graças à recente dispersão territorial e à demarcação da TI Tenondé Porã, reconhecida em portaria declaratória pelo Ministério da Justiça em 2016.

Agora, os indígenas paulistanos lutam pela conclusão do processo de demarcação, que ainda depende da retirada de não indígenas, demarcação física do território e homologação pela Presidência da República. E reivindicam ao poder público municipal a aprovação de um projeto de lei (PL 181/2016), que propõe o fortalecimento do Cinturão Verde Guarani na capital paulista.

Jera Guarani, liderança da aldeia Kalipety, de chapéu (ao centro) durante colheita de milho
Legenda da foto,Jera Guarani, liderança da aldeia Kalipety, de chapéu (ao centro) durante colheita de milho

Saiba mais em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-55279011

Comente aqui