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Carta de Roma: Por que livros incomodam tanto a direita?

Do Brasil à Itália, uma reflexão sobre literatura e direitos humanos, a partir da lista de ”livros inadequados” da Lega Nord.

Por Marcela Magalhães de Paula

No século XIX, um artigo de Louis de Bonald, publicado no Mercure de France, lançou ao mundo a frase “a literatura é a expressão da sociedade”. Uma afirmação que trouxe no seu ventre a polêmica, um tanto determinista, de que cada nação possuía a literatura que merecia, sem levar em conta as especificidades que influenciam o sistema literário, como a censura ou as narrativas unilaterais de certas elites.

Em particular, neste momento de ascensão do conservadorismo (e, entenda-se, de direita e de fundamentalismo religioso), vemos agressões e boicotes cada vez mais frequentes a livros e a escritores, encarados de per se como “indesejáveis”. Mas, se textos de escritores progressistas desaparecessem, seria justo num futuro encarar a literatura como um retrato da nossa sociedade atual?

No Brasil, nas últimas semanas, vimos a perseguição sofrida pelo escritor João Paulo Cuenca por parte de pastores da Igreja Universal: exemplo prático de uma lamentável cruzada, fruto nada mais da continuação de políticas de aversão ao livro, do obscurantismo como ideologia, promovidas pela gestão atual do governo brasileiro. Lembrando que, em janeiro deste ano, o presidente Jair Bolsonaro defendeu mudanças em livros didáticos, afirmando que atualmente eles têm “muita coisa escrita” e que era preciso “suavizar”. Vimos ainda o absurdo projeto de taxação do livro sugerido pelo ministro Guedes para dificultar mais o acesso à cultura por comunidades pobres. Medidas assim, além de agravar a crise do mercado editorial, são capazes de aprofundar desigualdades, uma vez que a leitura representa uma plataforma de transformação social.

E na Itália?

No último 7 de outubro, na cidade italiana de Ferrara, o vereador da Lega Nord, Alcide Mosso, fez um pedido dirigido à “câmara de vereadores” para “checar” os livros comprados pelas bibliotecas, em uma tentativa de censura inaudita. Segundo Mosso, depois de ter pego emprestado uma obra literária voltada para o público infantil em uma biblioteca local, ele teria sentido a necessidade de averiguar se os livros, presentes naquele território, seriam adequados para as expectativas dos cidadãos: “os nossos, no sentido de quem votou em nós e nos pede que os representemos, por isso peço a todos os vereadores que aceitem este pedido”. O “leguista” teria considerado o conteúdo inadequado para as crianças e para os “bons costumes”.

Saiba mais em: https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Cartas-do-Mundo/Carta-de-Roma-Por-que-livros-incomodam-tanto-a-direita-/45/49257

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