Quando Marie Hoskie ouviu falar do novo coronavírus pela primeira vez, em uma rádio local da Nação Navajo, maior reserva indígena dos Estados Unidos, ela ficou paralisada.
Lioman Lima
Não por causa do vírus em si, mas em razão de uma das recomendações mais eficientes para evitá-lo.
“Disseram que devemos lavar as mãos durante 20 segundos. E eu me pergunta como eu iria fazer isso se não tenho nem água para beber, cozinhar ou limpar”, afirmou à BBC News Mundo, o serviço em espanhol da BBC.
Hoskie vive em Monument Valley, uma das diversas comunidades da Nação Navajo que foram atingidas severamente pela pandemia de covid-19.
Ela, como muitos ali, precisa se locomover quase 30 km várias vezes por semana a fim de encontrar uma fonte de água potável.
Ela não enfrenta essas dificuldades sozinha. Quase 40% dos navajos que vivem na reserva não têm acesso a água potável.
Energia elétrica, internet e ruas pavimentadas são quase luxo por ali.
E como se não bastasse, a Nação Navajo é a região com mais casos de coronavírus per capita nos Estados Unidos.
Até 18 de maio, mais de 4.000 indígenas haviam contraído o vírus, e cerca de 170 haviam morrido em decorrência da covid-19.
“Há muitos aqui que perderam pai, mãe e irmãos em poucas semanas. O golpe tem sido forte, muito forte”, lamenta Hoskie.
Se fosse um Estado, seria o mais pobre
Se a Nação Navajo fosse um país, teria quase o tamanho de Portugal. É a maior reserva indígena em área ocupada nos EUA, ao longo de três Estados (Arizona, Utah e Novo México), mas é apenas uma fração da área que ocupava até o governo dos EUA tomá-la.
Hoje, vivem ali cerca de 170 mil pessoas, descendentes de um dos povos originários do oeste americano.
Ainda que vivam atualmente de mineração, hotelaria e cassinos, como muitas outras reservas indígenas, os navajos também sofrem com um elevado índice de pobreza, abuso de drogas, violência sexual, baixos níveis de educação, desemprego, serviços de saúde esvaziados e habitações precárias.
Se a Nação Navajo fosse um Estado americano, segundo vários estudos, seria o mais pobre do país.
Dados do Departamento de Habitação e Desenvolvimento Urbano aponta que mais de um terço das residências ali estão superlotadas e com escassez de água, energia elétrica, aquecimento, geladeiras e outras necessidades básicas.
A Nação Navajo é também a mais tóxica: abriga 521 minas de urânio abandonadas, quatro processadores nucleares desativados e mais de 1.100 lugares contaminados por resíduos radioativos, segundo a Agência de Proteção Ambiental dos EUA.
Saiba mais em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-52761359
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