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Enquanto isso, na China…

País venceu a covid-19 e prepara-se para “guerra híbrida” aberta pelos EUA. Vai voltar produção para dentro, encarar desigualdade e ocupar, na cena externa, espaço aberto por Washington. Sem descuidar da aliança com Moscou…

Por Pepe Escobar | Tradução: Simone Paz

Em meio à contração econômica mais profunda em quase um século, o Presidente Xi Jinping deixou bem claro, mês passado, que a China deveria se preparar para desafios estrangeiros sem precedentes e implacáveis. Ele não se referia somente à possível ruptura das cadeias de suprimentos globais e à demonização constante dos projetos relacionados às Novas Rota da Seda, também chamada à Iniciativa do Cinturão e da Estrada

Um documento interno, supostamente vazado — secreto e invisível dentro da China — mas obtido por alguma fonte obscura ligada ao Ocidente, chegou a afirmar, essencialmente, que a brincadeira de culpar a China pelo vírus é como a reação sobre a Praça de Tiananmen, trinta anos depois. De acordo com o documento, secreto e invisível, a China teria que “se preparar para o confronto armado entre as duas potências globais” — numa referência aos EUA. É como se se tratasse de uma estratégia agressiva implantada primeiro pelo Estado chinês, e não em resposta à grande escalada da guerra híbrida 2.0 pelo governo dos Estados Unidos.

Para todos os efeitos práticos, essa demonização da China ultrapassou as paranoias anteriores, da demonização da Rússia. Acabou o que Pequim costumava definir como um “período de oportunidade estratégica”. Houve até rumores nos círculos intelectuais de que a liderança do Partido Comunista Chinês acreditava que essa janela estratégica de oportunidade duraria até a data-chave de 2049 — quando o “rejuvenescimento nacional” teria sido totalmente alcançado. Esqueça. Agora, o jogo todo se resume à guerra híbrida 2.0 implantada pelos EUA, para conter a qualquer custo a superpotência emergente. E isso implica que uma infinidade de planos chineses estão sendo turbinados.

A primeira determinação é restaurar a produtividade da máquina Made in China. Foi nisso que o presidente Xi insistiu durante sua recente visita à província de Shaanxi, historicamente crucial para o Partido Comunista Chinês. Também, falou em uma ofensiva contra a pobreza — ele havia prometido erradicá-la ainda este ano.

No sentido oposto de todas as previsões ocidentais, as exportações da China cresceram 3,5% em abril, em comparação com a queda de 6,6% em março. Isso destrói totalmente a lógica de afastamento das empresas ocidentais. O governo japonês, por exemplo, está acelerando a retirada de fábricas da China, às pressas, numa estratégia não muito inteligente. Essas fábricas estão abandonando uma nação que praticamente erradicou a covid-19. E se se mudarem para o Vietnã, á a economia também é socialista (só que com características vietnamitas).

No primeiro trimestre de 2020, o PIB chinês caiu cerca de 6,8%. A recuperação já está em curso. Oficialmente, o desemprego era de 5,9% no final de março — sem levar em conta os trabalhadores migrantes que voltaram para as grandes cidades depois de passado o ápice do coronavírus no interior. As projeções de desemprego chegavam a 20% — mas depois encolheram.

A recuperação consistirá num misto de estímulos econômicos para empresas grandes e pequenas; investimentos em infraestrutura; e vouchers para a grande maioria das massas trabalhadoras. O sistema hukou — que vincula os direitos sociais ao local de residência — também será reformado.

Saiba mais em: https://outraspalavras.net/geopoliticaeguerra/enquanto-isso-na-china/

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