A última obra do escritor Laurent Binet, um romancista francês de 44 anos, responde uma pergunta que milhões de latino-americanos provavelmente já se fizeram muitas vezes. O que teria acontecido se a América tivesse “descoberto” e colonizado a Europa, e não vice-versa?
Por Arturo Wallace
Em Civilizações, o escritor imagina um mundo onde um pequeno e bastante plausível acidente na história mudou o rumo do planeta: exploradores vikings, em vez de simplesmente passarem pela costa canadense, são forçados a se estabelecer no continente americano. Quinhentos anos depois, sua herança — na forma de armas de ferro, anticorpos e cavalos — transformou a resposta dos índios Taino, no Caribe, à chegada de Colombo.
No romance, em 1531, é o último rei do império inca, Atahualpa, quem invade a Europa e inicia a colonização do império de Carlos 5º, do sacro império romano-germânico.
A BBC News Mundo (serviço da BBC em espanhol) conversou com o escritor francês sobre esse cenário imaginado.
BBC – O sr. é um escritor francês que responde a uma pergunta que os latino-americanos já se fizeram muitas vezes. De onde veio a ideia?
Laurent Binet – A ideia me ocorreu no outono de 2015, depois de ser convidado para a Feira do Livro de Lima. Esse foi o gatilho, porque naquela viagem descobri muitas coisas sobre os índios pré-colombianos, os incas e a conquista de (Francisco) Pizarro (europeu que invadiu e dominou o Peru) que achei muito interessantes.
Depois me deram um livro de Jarred Diamond chamado Guns, Germs and Steel (Armas, Germes e Aço), no qual há um capítulo inteiro sobre Atahualpa e Pizarro.
Neste capítulo Diamond quem pergunta por que foi Pizarro quem veio ao Peru para capturar Atahualpa e não Atahualpa quem foi à Europa capturar Carlos 5º.
E foi isso que me deu a ideia. Isso me fez pensar: Por que não? Agora vejo em que condições seria possível que a coisa acontecesse ao contrário. E os elementos da resposta também me foram dados por Jarred Diamond, porque sua teoria é que os incas, os nativos americanos, precisavam de três coisas principais para poder resistir aos espanhóis: cavalos, aço e, acima de tudo, anticorpos.
BBC – Em seu livro,o sr. imagina que para isso bastaria uma pequena mudança na história.
Binet – Exatamente. Eu acredito nos acasos da história. Quer dizer, acho que existem grandes tendências e a história não muda quando você estala os dedos. Mas isso não significa que não haja grandes coincidências. Uma das questões é que os europeus tinham mais animais domésticos do que os nativos americanos. E em contato com esses animais eles ficavam mais expostos aos micróbios. Por que foram os europeus que conquistaram o mundo e não os asiáticos ou os africanos? E talvez a resposta seja por que eles tinham porcos e vacas. Acho que é uma ideia interessante.
Agora, também se sabe que os vikings chegaram ao Canadá por volta do ano mil. Eles chegaram, mas não ficaram. Se eles tivessem ficado, tudo poderia ter sido muito diferente. Portanto, este é o meu ponto de partida: o que aconteceria se Cristóvão Colombo chegasse em Cuba e encontrasse indígenas que tinham cavalos, armas de ferro e 400 anos para se preparar para a chegada de seus micróbios?
Saiba mais em: https://www.bbc.com/portuguese/curiosidades-54938885
Comente aqui