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“Não é surpresa que europeus comprem madeira ilegal da Amazônia”

Em entrevista, coordenador da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil aponta que entidade já denunciou ligações de empresas de Europa e EUA com cadeia ilegal na Amazônia. Bolsonaro ameaçou divulgar compradores.

Pressionado dentro e fora do Brasil pela alta do desmatamento e das queimadas, o presidente Jair Bolsonaro ameaçou, durante encontro do Brics (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) nesta terça-feira (17/11), divulgar uma lista de países que comprariam madeira ilegal da Amazônia.

Transações do tipo são conhecidas e denunciadas há tempos por organizações não governamentais e pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib).

Em 2019, a ONG Amazon Watch e a Apib lançaram um relatório que listou empresas brasileiras multadas por crimes ambientais na Amazônia e onde os produtos que elas comercializavam foram parar. 

O relatório, intitulado Cumplicidade na Destruição: como os consumidores e financiadores do Norte permitem o ataque do governo Bolsonaro à Amazônia Brasileira, analisou 56 empresas brasileiras que foram multadas por crimes ambientais na Amazônia desde 2017 e identificou empresas estrangeiras que fazem negócios com elas.

Quanto à madeira, o levantamento identificou no Brasil as empresas Benevides Madeiras & Argus, Tradelink Madeiras e Nordisk Timber Eireli – Edma Lamounier Barros como exportadoras que vendem para 14 empresas na Bélgica, Holanda, Dinamarca, França, Reino Unido e Estados Unidos

Mais recentemente, em outubro, a Apib mostrou de onde vem o dinheiro que investe em empreendimentos na Amazônia que têm causado conflitos socioambientais e destruição. Gigantes como BlackRock, Citigroup, J.P. Morgan Chase, Vanguard, Bank of America e Dimensional Fund Advisors apareceram no relatório.

Para Dinaman Tuxá, advogado e coordenador executivo da Apib, a flexibilização das leis ambientais, a falta de fiscalização e a participação de empresas brasileiras que transformam, por meio de fraude, madeira ilegal em legal são problemas que devem ser combatidos.

“Nós também alertamos a comunidade internacional sobre a importância de os governos penalizarem essas empresas que vêm promovendo a destruição na Amazônia”, defendeu em entrevista à DW Brasil.

DW: O presidente Jair Bolsonaro ameaçou divulgar uma lista com países que comprariam madeira ilegal da Amazônia. Por outro lado, esse parece ser um tema conhecido por vocês, que lançaram em 2019 o primeiro relatório que trazia nomes de empresas na Europa e Estados Unidos ligadas a ilegalidades na Amazônia. Como chegaram aos nomes?

Dinaman Tuxá: Lançamos um primeiro relatório dando o nome das empresas ligadas à cadeia do desmatamento ilegal no Brasil em 2019 e, em 2020, lançamos outro.

A gente fez o mapeamento da rastreabilidade dos produtos, de onde eles saíam, e os principais mercados compradores. Fizemos uma análise dos contratos e acordos –  aliás, alguns contratos tinham cláusulas de restrição de publicidade. Fomos buscar essas informações por meio dos contratos firmados entre países e as principais empresas que produzem e exportam da Amazônia, principalmente oriundas do agronegócio brasileiro.

Saiba mais em: https://www.dw.com/pt-br/n%C3%A3o-%C3%A9-surpresa-que-europeus-comprem-madeira-ilegal-da-amaz%C3%B4nia/a-55652787

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