Ensaio fotográfico mostra a organização contra a pandemia em Paraisópolis, S. Paulo. “Presidentes de rua”, eleitos, são responsáveis pela entrega de cestas básicas e máscaras; e organizam brigadas de saúde e acolhimento. Cada um cuida de 50 famílias
Por Arthur Stabile e Gui Christ
“Nos sentimos abandonados, como se não fossemos brasileiros. Esquecidos”. A definição de Gilson Rodrigues, representantes dos moradores de Paraisópolis, segunda maior favela de São Paulo, na zona sul da cidade, é um desabafo. Faz questão de mostrar a falta de preocupação do poder público com a periferia em meio à pandemia do novo coronavírus. Mais do que reprovar, contudo, a comunidade de Paraisópolis se uniu. Mostrou que, mais uma vez, a favela vive por conta própria, na base de um lema antigo: ‘Nós por nós’.
União é a palavra que melhor representa o atual momento vivido ali. Seis meses após nove jovens terem morrido pisoteados em ação da PM durante um baile funk e de três jovens serem sequestrados e mortos na quebrada, Paraisópolis não quer ser notícia mais uma vez por causa de tragédias. Os moradores se mobilizaram para evitar um caos gerado pela pandemia.
A organização é simples: cada rua tem um representante, chamado de presidente. Ele é responsável por até 50 famílias, uma forma de o controle do que está acontecendo ser melhor administrado. São os presidentes que definem as entregas de cestas básicas, chamam ambulâncias para os doentes e encaminham quem precisa para as casas de abrigo — outra ação para atender quem precisa.
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“Não é à toa que colocamos o nome do voluntário de presidente de rua. Temos nosso próprio presidente, com a ausência de um representante nesse tempo de pandemia”, afirma Gilson. “Tudo que fizemos veio da favela. Não vem nada dos governos. O estadual liberou apenas escolas para a gente, mais nada. Falta política pública. É uma tragédia que está sendo construída”, prossegue.
Para evitar a tragédia, Paraisópolis criou a entrega de marmitas, a produção e entrega de máscaras aos moradores, contratação de profissionais da saúde para atender os moradores em três ambulâncias, a elaboração de casas de acolhimento (que funcionam em escolas locais, cedidas pelo governo do tucano João Doria), além das cestas básicas entregue às famílias mais necessitadas.
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