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O otimismo ultrajante de Jean-Paul Sartre

Esta semana completou quarenta anos desde que Jean-Paul Sartre nos deixou. A filosofia e os valores políticos do socialista francês ainda inspiram lutas pela liberdade mundo afora.

Por Ian Birchall / Tradução Caroline Freire

15 de abril foi o quadragésimo aniversário da morte de Jean-Paul Sartre. Ainda me lembro de quando ouvi a notícia. Não foi inesperado – ele estava gravemente doente há algum tempo –, ainda assim foi um choque. Para aqueles da minha geração que seguiram rumo à política socialista, durante as décadas de 1950 e 1960, Sartre foi um guia e uma influência importante, e ele nos deixou uma enorme quantidade de trabalho.

São grandes volumes sobre filosofia e teoria marxistas, mas também romances e peças que dramatizam questões filosóficas e as tornam dolorosamente concretas. Além de polêmicas políticas ligadas a situações bastante específicas. Após sua morte, a descoberta de manuscritos inéditos – entre eles um roteiro cinematográfico sobre Freud – revelou novas facetas desse autor tão complexo e prolífico.

“Condenado a ser livre”

Sartre é frequentemente apresentado como um pensador pessimista. Em seu romance A Náusea, escreveu: “Todo o existente nasce sem razão, prolonga-se por fraqueza e morre por acaso.” Talvez a citação mais conhecida de Sartre esteja em sua peça Entre Quatro Paredes – “o inferno são os outros”. Mas se o ponto de partida parece sombrio – vivemos em um universo sem Deus e sem sentido – a lógica é que todo significado e valor vêm dos seres humanos, de nós mesmos. Na própria frase de Sartre, estamos “condenados a ser livres”.

Como o próprio Sartre observou, não foi o seu suposto pessimismo que incomodou tanto as pessoas, mas o seu poderoso otimismo: a insistência de que somos livres para agir, para mudar o mundo e, portanto, responsáveis pelo mundo ser como é – pelas guerras, pela fome e opressão. Essa liberdade – experiência vivida não de forma agradável, mas angustiante – é central em todo o trabalho de Sartre, assim como as estratégias que criamos para negar as nossas responsabilidades – o que ele chamou de “má fé”.

Assim, Sartre insistia que desastres naturais não existem: “O homem é quem destrói suas cidades através da ação de terremotos”. Em um mundo sem seres humanos, um terremoto não significa nada: é apenas um levante de matéria sem importância. É somente quando o terremoto se depara com projetos humanos – estradas, prédios, cidades – que se torna um desastre. É um lembrete de que, em época de mudanças climáticas, os desastres não são obras da natureza mas resultados das escolhas, ambições e brutalidades humanas.

Em um artigo de 1948, Sartre revelou sua ambição de “escrever para o seu próprio tempo”. Seu objetivo não era buscar verdades universais, mas confrontar a realidade do mundo de sua época. Os problemas eram urgentes demais para serem preteridos em favor de considerações de longo prazo .

Saiba mais em: https://jacobin.com.br/2020/04/o-otimismo-ultrajante-de-jean-paul-sartre/

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