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O que a morte do indigenista Rieli Franciscato nos diz sobre os misteriosos povos isolados da Amazônia

A memória mais vívida que Moisés Kampe tem dos eventos de 9 de setembro é um som.

Fernando Duarte

Foi um baque que ele ouviu, segundos antes de perceber que algo terrível havia acontecido.

O chefe de Kampe, o renomado especialista brasileiro em assuntos indígenas Rieli Franciscato, jazia imóvel no chão, atingido no peito por uma flecha. Ele seria declarado morto na chegada a um hospital local, minutos depois.

A flecha foi disparada por um grupo de indígenas brasileiros avistados nas proximidades de uma fazenda em Seringueiras, uma pequena cidade com menos de 13 mil habitantes em Rondônia – um dos nove Estados brasileiros pelos quais a Floresta Amazônica se espalha.

Fica nas profundezas da floresta tropical, a 500 km de distância do centro urbano mais próximo, a capital Porto Velho.

A cidade rural é um dos muitos assentamentos em torno de uma reserva indígena conhecida como Uru-Eu-Wau-Wau. É um local conhecido por ser habitado por nove povos diferentes – incluindo cinco grupos classificados como “isolados”.

Grupo indígena se escondendo de helicóptero após ser avistado em 2016
Legenda da foto,Acredita-se que a região amazônica seja o lar da maioria das tribos isoladas do mundo

Isolamento

Franciscato estava seguindo o grupo avistado perto da fazenda como parte de seu trabalho para a Funai, agência do governo brasileiro para assuntos indígenas.

Ele era o líder de uma das forças-tarefa cuja missão é monitorar e proteger comunidades como essa.

“Pode ser que esses indígenas nunca saibam que Rieli foi um dos maiores defensores dos direitos indígenas do Brasil”, diz Kampe à BBC.

Ao contrário de países como os Estados Unidos e o México, o Brasil e algumas outras nações sul-americanas têm um número relevante de grupos indígenas classificados como isolados – povos tribais que não tiveram contato pacífico com ninguém de fora.

Podem ser povos inteiros ou grupos menores de tribos já contatadas.

Estima-se que existam mais de 100 desses grupos ao redor do mundo, e mais da metade está na região amazônica.

Eles vivem sem contato contínuo com seus vizinhos e com o mundo.

Foto de Rieli Franciscato
Legenda da foto,Rieli Franciscato era um dos maiores especialistas brasileiros em povos indígenas

Pouco se sabe sobre eles – não se sabe nem o número de sua população ou mesmo que línguas falam.

Tentar adivinhar não é realmente uma opção, considerando que o Brasil tem mais de 305 grupos indígenas conhecidos e 274 línguas diferentes.

Sabe-se tão pouco sobre o grupo que supostamente matou Rieli Franciscato, que ele é apenas descrito pela Funai como “os isolados do Cautário”, em referência a um rio da região.

Infelizmente, é mais do que provável que as pessoas isoladas que Rieli encontrou em Seringueiras tivessem más lembranças de encontros anteriores com o mundo exterior.

“Essas pessoas são sempre perseguidas por caçadores, madeireiros e fazendeiros. Não há como saberem quem as está ameaçando ou não”, explica Moisés Kampe.

“Eles nos viram e pensaram que éramos os agressores. Não podemos culpá-los pelo que aconteceu.”

Saiba mais em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-54177622#:~:text=%C3%89%20pelo%20WhatsApp%20que%20Kampe,a%20morte%20de%20Rieli%20Franciscato.&text=As%20tribos%20isoladas%20permanecem%20misteriosas,de%20modo%20invis%C3%ADvel%20da%20floresta.

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