Agora, está clara a importância do trabalho ligado à Vida. Cuidado, Culinária, zelo pela Casa. Afetos. O que o feminismo argumenta. O que o capital despreza e não quer remunerar. Oxalá saiamos da crise subvertendo a lógica da mercadoria
Por Silvia Federici, na Fabrica de Sueños| Tradução: Tadeu Breda, na Editora Elefante
Nós, feministas, repetimos há muitos anos que este sistema não garante nosso futuro, nem nossa vida presente. Este sistema está nos matando de muitas maneiras.
Com a agricultura industrializada, por exemplo, ao produzir alimentos que prejudicam nossa saúde (em 2019, mais de quatro milhões de pessoas morreram de diabetes em todo o mundo devido, entre outros motivos, ao veneno do fast–food), e também com a poluição das águas, pelo uso de pesticidas.
As camponesas, as indígenas, as moradoras das periferias urbanas formam a primeira linha na luta por uma sociedade distinta, por uma reprodução que nos dê vida, que nos dê um futuro, que nos nutra — e que não nos mate.
Esta pandemia faz com que injustiças que ocorrem todos os dias (com a guerra, os despejos, os deslocamentos forçados, as expropriações, a contaminação ambiental) se tornem muito visíveis, muito evidentes, e que se resumem na destruição da natureza.
Outro exemplo é o aumento do desespero. Mais de vinte mil pessoas já morreram nos Estados Unidos devido ao novo coronavírus [números referentes a 16 de abril de 2020]. É terrível, é aterrorizante. Somente no ano passado, 48 mil pessoas se suicidaram: tiraram a própria vida porque essa vida tem se tornado mais triste, mais difícil.
Como sempre, as mulheres sofrem mais também agora. Hoje, podemos ver que elas estão na linha de frente como trabalhadores da assistência social e de sanitária, e mesmo nos trabalhos mais precarizados. Há ainda uma carga maior do trabalho em casa: cuidar dos filhos em tempo integral, não lhes transmitir medo, protegê-los dessa ameaça.
Tudo isso visibiliza a importância da reprodução. “Reprodução” é uma palavra que ainda se refere a muitas realidades diferentes, mas conectadas. Reprodução é cuidado, educação, culinária, acompanhamento de doentes. E também o cuidado da natureza.
É uma agricultura sustentável, que também depende muito das mulheres. Uma agricultura que não busca o lucro, mas o sustento das pessoas e de suas famílias. Com esse tipo de agricultura, podemos nos certificar de que o que comemos não vai nos matar — pelo contrário, vai nos nutrir. A agricultura industrializada nos provocou câncer, além de outras doenças derivadas de um modelo baseado no lucro.
Saiba mais em: https://outraspalavras.net/crise-civilizatoria/pandemia-reproducao-e-comuns/
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