Passado um mês da primeira morte notificada pela covid-19, capital tem mais de 70% dos testes aguardando liberação. Nas franjas da cidade, falta desde informação até sabonete, diz líder comunitário
MARINA ROSSI São Paulo
Passado um mês da primeira morte notificada em decorrência do coronavírus, São Paulo mostra um mapa manchado pelo avanço da doença, com óbitos registrados em todas as regiões do município, em especial, nas periferias. De acordo com a Secretaria da Saúde Municipal, é longe do centro que estão os maiores números de óbitos suspeitos e confirmados da covid-19. Até este sábado, 18, das 686 mortes ocorridas na cidade, ao menos 51 foram no distrito de Brasilândia, na zona norte, e 48, no de Sapopemba, na zona sudeste, seguidos por São Mateus e Cidade Tiradentes, ambos na zona leste e com 36 óbitos respectivamente (veja o mapa abaixo). O Brasil inteiro registra ao menos 2.347 mortes neste sábado, com 36.599 casos confirmados da doença.
É nas franjas dessa megalópole que, ao que parece, se concentram também a maior parte das mortes suspeitas de coronavírus, de acordo com o mapa apresentado pela prefeitura nesta sexta. A imagem sobre cada região mostra o total de casos sobre um círculo de duas cores, mais escura para as confirmações e mais claras, as suspeitas. Analisando a imagem, é possível perceber que as cores apontam para mais suspeitas nos bairros periféricos e mais confirmações na região mais central, embora a prefeitura não tenha apresentado números com esse recorte. “A testagem é menos rápida dependendo do seu CEP”, afirma Paulo Saldiva, patologista e professor da Faculdade de Medicina da USP. “Por isso as suspeitas aparecem em maior quantidade nas periferias”. De acordo com a prefeitura, do total de testes enviados desde o início da pandemia para análise ao Instituo Adolfo Lutz, o principal laboratório público de análises da covid-19, somente 32% tiveram seu resultado liberado, e desses, 16% deram positivo. Ou seja, há atualmente cerca de 15.000 testes aguardando alguma etapa final para liberação do resultado.
Outro recorte social do coronavírus no epicentro da pandemia no Brasil mostra que tanto entre os casos confirmados (9.428 até sábado, 18), quanto entre os suspeitos (cerca de 35.000), as mulheres de 30 a 39 são a maioria, seguidas pelas de 40 a 49 anos. Para Saldiva, é possível que no Brasil o nível social seja mais importante que a faixa etária quando se trata de infectados e mortos pelo coronavírus. “Não dá para ter certeza ainda, mas os dados estão mostrando que os vulneráveis não são só os idosos”, afirma. “No Brasil e em outros países da América Latina, assim como na África, essa história vai ter uma tintura diferente daquela da Europa”. Nesta semana, a médica Margareth Dalcolmo, pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), também afirmou ao EL PAÍS que vê, no Brasil, tendência de “rejuvenescimento” do vírus em relação aos países por causa da distribuição etária. Levantamento feito pelo jornal com secretarias dos Estados em situação de emergência ―quando a incidência de casos é maior que a média nacional— mostrou o maior percentual de hospitalizados entre os menores de 60 anos.
Comente aqui