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”Se a esquerda não ficar pelo caminho nas eleições de SP, o PT ficará”

Primeiro debate na TV comprova desafio da disputa e mostra Boulos e Orlando Silva mais preparados que Jilmar Tatto para o confronto direto de ideias

Por Bia Barbosa

SÃO PAULO – As últimas pesquisas eleitorais para a Prefeitura de São Paulo, divulgadas neste início de campanha oficial, mostram o tamanho do desafio político do Partido dos Trabalhadores. Tanto no Datafolha de 24 de setembro quanto no levantamento da Paraná Pesquisas divulgado nesta quinta-feira (1), Jilmar Tatto larga com cerca de 2%, embolado com candidaturas de partidos pequenos como Patriota e PSTU, e empatado tecnicamente com Andrea Matarazzo (PSD). Foi com o objetivo de engatar a segunda marcha na campanha pela maior cidade do país que o PT entrou no debate transmitido pela Rede Bandeirantes na última noite, mas a missão se mostrou bastante mais complexa.

Na opinião de analistas políticos ouvidos pela CARTA MAIOR, Tatto não apenas não se destacou no debate como foi incapaz de defender o legado petista na cidade e no país. Enquanto o partido foi atacado por vários oponentes – entre outros, Joice Hasselmann (PSL) disse que o PT quebrou o país e o atual prefeito Bruno Covas (PSDB) chegou a mentir, por duas vezes, que Fernando Haddad teria deixado a Prefeitura com um “rombo de R$ 7 bilhões” – , Jilmar Tatto preferiu deixar as acusações sem resposta e destacar suas ações à frente da Secretaria de Transportes da cidade.

Falou da criação do bilhete-único, das ciclovias e corredores de ônibus e disse, sem que alguém conseguisse entender, que vai criar a casa do entregador de aplicativos. Não respondeu que o caixa da administração paulista foi entregue ao tucano com R$ 3,15 bi de saldo positivo, algo raríssimo em administrações locais.

Na avaliação do cientista político Cláudio Couto, professor do Departamento de Gestão Pública da Escola de Administração da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, embora o petista tenha um discurso substantivamente mais amplo do que outros candidatos da esquerda, ele não deve conseguir chegar ao segundo turno.

Jilmar Tatto: candidato do PT larga mal nas pesquisas e no debate eleitoral (PT na Câmara)

“Ele é tão sem graça e tão ruim de se expressar que vai ficar pelo caminho. Seu desempenho no debate foi de alguém que não faz política profissional, que não conseguia expressar suas ideias. É um cara de máquina partidária e não de grandes embates eleitorais; e uma coisa é se eleger deputado, outra é disputar o Executivo, onde é preciso seduzir o eleitor. E Tatto foi muito pouco sedutor, para dizer o mínimo”, avalia Couto.

Cresceu, portanto, a leitura de que Guilherme Boulos, que divide a chapa do PSOL com a ex-prefeita Luiza Erundina como vice, é quem pode abocanhar este eleitorado. Nas duas pesquisas citadas anteriormente, Boulos aparece em terceiro lugar – com 9% ou 8%, respectivamente –, empatado tecnicamente com outro nome que se coloca no campo progressista: Márcio França (PSB ). Apesar de ter sido eleito vice-governador na chapa tucana de 2014 e ter assumido o governo de São Paulo em 2018, quando Geraldo Alckmin foi disputar a presidência, França foi quem angariou mais recentemente o apoio da esquerda, em sua disputa pela reeleição que o levou ao segundo turno contra João Dória em 2018.

“Boulos hoje tem mais chance do que Tatto de ocupar um eventual lugar da esquerda no segundo turno. É muito mais desenvolto e articulado e consegue ter um discurso, por incrível que pareça, que atinge setores mais amplos da sociedade. Acho muito provável que o PT não chegue no segundo turno, talvez Boulos chegue. Orlando Silva, apesar de ter ido bem no debate, tem a limitação de ser do PCdoB e das pessoas terem preconceito pelo fato de ser um candidato comunista. Não sei se a esquerda vai ficar pelo caminho nessas eleições, mas o PT vai”, afirma Couto, para quem Márcio França teve o melhor desempenho na noite de quinta, ao conseguir falar de problemas concretos de maneira mais palpável para o cidadão comum.

Saiba mais em: https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Eleicoes/-Se-a-esquerda-nao-ficar-pelo-caminho-nas-eleicoes-de-SP-o-PT-ficara-/60/48908

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