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As manifestações em Cuba na visão de Atilio Boron

O sociólogo e politólogo, Atilio Boron, conversou com o rapper e youtuber Daniel Devita sobre as manifestações em Cuba, deste fim de semana

Por César Locatelli

O sociólogo e politólogo, Atilio Boron, conversou com o rapper e youtuber Daniel Devita sobre as manifestações em Cuba, deste fim de semana. Esta é uma versão resumida e editada da entrevista.

O que aconteceu em Cuba? Diaz Canel renunciou? A revolução cubana caiu?

O que acontece é parte da guerra do imperialismo e da guerra midiática. Há alguns anos, numa daquelas audiências famosas promovidas pelo Senado dos EUA, perguntaram a um general sobre o que faltava às forças armadas, mais aviões, mais helicópteros etc.

A resposta foi que não precisavam de nada, pois, hoje em dia, o palco fundamental das guerras são os meios de comunicação. Não precisamos mais lutar nas selvas tropicais ou nos subúrbios decadentes do terceiro mundo, nas palavras do general.

A batalha que está sendo travada hoje na mídia, que você e muita gente está lendo, é efeito da estratégia norte-americana de utilizar um imenso aparato midiático para disseminar uma mentira, para gerar um clima de opinião que tenha repercussões na ilha e alimente os protestos que ocorreram.

É uma loucura, eles manejam 85% das informações que circulam no nível mundial. Quando estiverem lendo um jornal, tenham em conta que nove em cada dez notícias tiveram origem em agências norte-americanas ou em agências dependentes dos Estados Unidos.

Canel fez um discurso, porque em três lugares de Cuba se registraram manifestações de rua que foram disparadas a partir dos Estado Unidos, por muitas redes sociais, que circulam livremente pela ilha cubana. Saíram às ruas algumas centenas de pessoas, em uma cidade como Havana que tem três milhões de habitantes.

De todo modo, o governo cubano viu com preocupação, pois há um dado objetivo e é real: o governo está asfixiado por um bloqueio. Não podem importar, não podem exportar, não lhes deixam receber remessas de dinheiro, o turismo se acabou. Em meio a uma pandemia, não lhes vendem remédios. O bloqueio incide sobre as empresas de navegação, mas, mais prejudicial, incide sobre as seguradoras que não aceitam empresas de navegação que se destinem a Cuba.

E mesmo sobre o peso do bloqueio, Cuba tem tido êxitos notáveis. É o único país da América Latina a desenvolver vacinas próprias, autóctones, para a Covid-19. É uma vergonha para Argentina, Brasil, México que sem bloqueio não lograram desenvolver uma vacina.

O incômodo dos EUA com Cuba é pelo mau exemplo: uma pobre ilha subdesenvolvida, que consegue oferecer padrões de saúde, educação pública e segurança social mais elevados do que oferecem países do mundo desenvolvido. Por isso é preciso aniquilar Cuba. É isso que os EUA estão tentando fazer há 60 anos e, até agora, não tiveram sucesso.

Não há registro na história universal, não da América Latina – tome-se qualquer continente, África, Ásia, qualquer um – não há um só caso que um grande país tenha imposto um cerco a um pequeno país durante 60 anos. Então, estão desesperados, ainda mais agora que a pandemia lhes cria a oportunidade de impor enormes sofrimentos ao povo cubano.

Isso se transformou numa política de Estado, tanto assim que um estrategista, ligado ao Departamento do Estado do EUA, escreveu um livro com o titulo A Arte da Sanção. Ali se explica que a sanção, econômica, bloqueio ou outra, debe ser aperfeiçoada como uma arte para fazer sofrer os povos para que se rebelem contra seus governante e possam produzir a queda de governos indesejáveis.

Não tiveram êxito, e não terão, porque os cubanos sabem muito bem o que aconteceu no Afeganistão, o que aconteceu no Iraque e sabem que não será diferente com eles. Claro, há grupos que saem às ruas, mas devesse ter em conta que muitos são integralmente bancados pelos Estados Unidos. É um aparato muito intenso que, hoje, cruza as fronteiras via internet.

Saiba mais em:https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Pelo-Mundo/As-manifestacoes-em-Cuba-na-visao-de-Atilio-Boron/6/51053

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