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Eric Hobsbawm tinha razão

O historiador marxista Eric Hobsbawm nasceu neste dia em 1917. Novo documentário sobre sua vida apresenta um retrato sensível de um historiador que alcançou respeito mundial mesmo sendo um comunista declarado. De forma profética ele previu que a desigualdade desenfreada nascida no neoliberalismo abriria caminho para um novo nacionalismo da extrema direita no século XXI.

Por Matt Myers |Tradução: Aline Klein

Eric Hobsbawm foi um comunista sem arrependimentos por mais de três quartos de século. Sendo um dos historiadores mais famosos do mundo e um intelectual público influente, Hobsbawm possuía uma gama de qualidades que os intelectuais britânicos em geral não tinham. Ele se tornou conhecido por seu domínio amplo da história europeia e mundial, pela sua variedade multilíngue, sofisticação teórica, clareza sintética, senso para detalhes empíricos e frases eletrizantes, sem deixar de mencionar um compromisso moral com aqueles que a história injustamente ignorou.

Com obras para um público de massas, tal qual sua série de livros Ages, o marxismo de Hobsbawm revelou-se sutilmente e sem didatismo. A estrutura e a lógica de seus argumentos, bem como as inúmeras citações mostravam mais do que sua simples simpatia pelo marxismo. Ele acreditava que a tradição marxista se baseava na busca pela verdade. A história importava porque tinha um propósito: a investigação racional e objetiva do passado era um pré-requisito para o progresso humano. 

Essas qualidades o tornaram um historiador incomum no retrocesso histórico da esquerda europeia. Se a Grã-Bretanha há muito é conhecida por sua insensibilidade às ideias revolucionárias tanto de esquerda quanto de direita, como pode ter produzido um historiador de tamanha estatura global?

A biografia individual de Hobsbawm fornece um ponto de vista particular sobre esta questão. Um novo filme sobre sua vida e obra, produzido para a London Review of Books (LRB) e pelo produtor, Anthony Wilks, narra e contextualiza a jornada de Hobsbawm da periferia ao centro da vida intelectual britânica. Um filme longo, bem pesquisado e profissional, Eric Hobsbawm: The Consolations of History [Eric Hobsbawn: A consolidação da História, com legenda em português] provavelmente se tornará sua principal biografia audiovisual.

De maneira excepcional para um filme sobre um intelectual britânico, a centralidade da repressão de Estado durante a juventude e meia-idade de Hobsbawm é um dispositivo de enquadramento fundamental. O documentário começa e termina com uma invasão do Estado secreto britânico de um esconderijo do Partido Comunista da Grã-Bretanha (PCGB) – a organização de Hobsbawm de 1936 até sua dissolução. Quarenta e oito mil documentos – incluindo autobiografias de seus membros – foram apreendidos e copiados pelo MI5 em sua Operação Party Piece.

Após o lamento inicial de Hobsbawm ao seu ineficaz isolamento acadêmico dos trabalhadores industriais que ele desesperadamente queria servir., ouvimos um agente da polícia secreta do caso descrever Hobsbawm como um “incansável (e cansativo) organizador de petições e defensor das causas perdidas”. Este autorretrato melancólico é a prova mais importante da principal afirmação interpretativa do filme: Hobsbawm foi um intelectual brilhante que, apesar de seus raros dons, era politicamente impotente antes e depois de seu sucesso profissional.

Nesse sentido, o filme captura de maneira habilidosa a forma como as cores dos compromissos políticos de Hobsbawm se suavizam com o tempo para um tom mais claro de vermelho. No entanto, ele oferece relativamente poucos vislumbres de sua vida interior além das memórias de sua viúva, Marlene Hobsbawm. Os ex-colegas de profissão de Hobsbawm e colaboradores do LRB, como Richard Evans, John Foot, Stefan Collini e Donald Sassoon, conduzem a narrativa do filme. O resultado é um retrato sensível, mas não acrítico, de um intelectual brilhante cujo legado foi temperado por fracassos.

Saiba mais em: https://jacobin.com.br/2021/06/eric-hobsbawm-tinha-razao/

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