Segundo as autoridades do país andino, Jeanine Áñez teve lesões no braço, mas sem maiores riscos à saúde. Advogados alegam ”depressão devido a abusos”, mas diretores carcerários asseguram que foi uma ”tentativa de chamar a atenção”
Por Victor Farinelli / Créditos da foto: (Luis Gandarillas/AFP)
O Ministério do Governo da Bolívia reconheceu neste sábado (21/08) que a ex-presidente de fato Jeanine Áñez sofreu um incidente na última manhã, pelo qual teve que ser atendida pela equipe médica do Centro Penitenciário Feminino de Miraflores, onde está presa desde março passado.
Segundo o ministro Eduardo del Castillo, “a senhora Jeanine Añez teria tentado provocar uma automutilação nas primeiras horas de hoje, porém, afirmamos que sua saúde está completamente estável. Ela tem alguns pequenos arranhões em um de seus braços. No entanto, não há nada com que se preocupar”.
Questionado sobre os detalhes do caso, o ministro afirmou que “a equipe médica fez as devidas consultas à ex-presidente, que não quis esclarecer quais seriam os motivos pelos quais ela teria tentado se machucar”.
Del Castillo também afirmou que Áñez foi submetida a exames médicos durante essas consultas, que mostraram resultados normais, o que permite que ela continue detida.
Versão da defesa de Áñez
Os advogados da ex-presidente alegam que ela vem sofrendo há meses com “abusos cometidos por agentes penitenciários”. Quem primeiro se manifestou foi a defensora Norka Cuéllar, que justificou o incidente desta manhã dizendo que Áñez “não aguenta mais, porque está enfrentando uma pressão desumana e precisa de liberdade para se defender em sua casa”.
“Este foi um pedido de ajuda da ex-presidenta. Ela não pede impunidade, e sim que a deixem se defender em liberdade, caso contrário as consequências serão fatais”, insistiu a defensora, em entrevista coletiva.
O outro advogado da ex-presidenta, Luis Guillén, descreveu o que aconteceu na madrugada deste sábado como “uma tentativa de suicídio”. Segundo ele, “este é mais um caso que mostra os abusos a que o ex-presidente tem sido submetido”.
Durante este mês de agosto, Jeanine Áñez foi transferida três vezes para hospitais após tentativas de suicídio – a última ocorrência foi na última quarta-feira (18/8). O defensor também argumenta que sua representada enfrenta um quadro forte de depressão devido às péssimas condições que enfrentaria na prisão.
Por sua vez, o comandante da polícia boliviana, Jhonny Aguilera, expressou suas dúvidas sobre a versão dos advogados de Áñez e qualificou os acontecimentos deste sábado como “uma tentativa de chamar a atenção”.
“Soubemos que a senhora Áñez gerou lesões nela mesma, que não são graves. Ela foi imediatamente encaminhada ao centro médico, como tem acontecido ao longo da semana”, disse a autoridade policial.
Jeanine Áñez: do poder à prisão
Jeanine Áñez assumiu o poder na Bolívia como presidenta de facto, após o golpe civil-militar de novembro de 2019. A então vice-presidenta do Senado teve o apoio das Forças Armadas, que abriu caminho para sua assunção após uma intervenção militar que levou às renúncias sob ameaça do então presidente Evo Morales, do vice-presidente Álvaro García Linera e da presidenta do Senado, a chilena-boliviana Adriana Salvatierra, todos representantes do partido de esquerda MAS (Movimento pelo Socialismo).
Sua ditadura durou um ano e foi marcada por casos de corrupção e por uma repressão muito forte contra os movimentos que tentaram resistir ao golpe de Estado. A prisão preventiva decretada contra Áñez foi baseada na acusação de sedição, conspiração e promoção do terrorismo de Estado, devido à sua participação no golpe de 2019. Porém, a ex-senadora também enfrenta vários outros processos.
Em maio, Jeanine Áñez foi denunciada por sua suposta participação em atos de corrupção durante sua gestão, em casos que também envolvem seu ex-ministro de Governo, Arturo Murillo, que foi preso nos Estados Unidos e enfrenta processo de extradição.
A última denúncia contra Áñez foi apresentada justamente nesta sexta-feira (20/08) pela Procuradoria Geral da Bolívia, e aceita pelo Supremo Tribunal de Justiça do país, e a acusa de responsabilidade nos massacres de Senkata e Sacaba, onde pelo menos 37 manifestantes foram mortos em ação da polícia militarizada enquanto protestavam contra o seu regime, dias após o golpe de Estado, em novembro de 2019.
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