Monumento a Sebastián de Belalcázar em Cali cai em dia de protestos em todo o país contra a impopular reforma tributária do presidente Iván Duque em meio à terceira onda da covid-19
Por Santiago Torrado
Sebastián de Belalcázar voltou a cair em meio a arengas e reivindicações. Pela segunda vez em menos de um ano uma estátua do conquistador espanhol foi derrubada nesta quarta-feira por um grupo de indígenas Misak que se manifestaram na cidade de Cali, no oeste da Colômbia. A greve nacional, convocada por diferentes organizações sociais para rejeitar a reforma tributária do Governo de Iván Duque, foi nesta ocasião o pretexto para derrubar, no início da manhã, o monumento que apontava com a mão direita para o Pacífico, símbolo e atração turística da terceira cidade do país. Na capital Bogotá os atos ocorreram de forma pacífica, com bloqueios de ruas e estações, apesar dos pedidos feitos por políticos para que a população evitasse aglomerações neste momento de pandemia.
Dentre os pontos polêmicos da proposta de reforma apresentada por Duque estão a taxação dos serviços básicos voltados para atingir as classes média e alta e a criação de um novo imposto para quem ganha acima de 656 dólares (cerca de 3.500 reais) ao mês.
O Movimento de Autoridades Indígenas do Sudoeste defendeu sua ação desta forma: “Derrubamos Sebastián de Belalcázar em memória de nosso cacique Petecuy, que lutou contra a coroa espanhola, para que hoje, nós, seus netos e netas, continuemos lutando para mudar este sistema de Governo criminoso que não respeita os direitos da mãe terra”. Nas imagens e vídeos do ato divulgados nas redes sociais observa-se a estátua caída, não totalmente desprendida de seu pedestal. Membros do Esquadrão Móvel Antimotim (Esmad) da polícia dispersaram os indígenas pela manhã.
Os protestos em Cali degeneraram em vandalismo. Além da estátua, os manifestantes queimaram um ônibus do sistema de transporte coletivo e saquearam um supermercado, razão pela qual o prefeito Jorge Iván Ospina decretou toque de recolher a partir das 15h e o Ministério da Defesa reforçou a presença do Esmad.
A capital do departamento de Valle del Cauca, com 2,4 milhões de habitantes e um notável tecido empresarial, é a grande cidade colombiana no oeste, porta para o Pacífico, muito próxima tanto da cordilheira dos Andes quanto do litoral. É também um microcosmo do país, com uma marcante herança afrodescendente e indígena. A estátua de Belalcázar, inaugurada em 1937 e feita na Espanha pelo escultor Victorio Macho, está localizada em um mirante sobre a cidade.
Belalcázar é considerado o fundador de Cali e Popayán, onde outra estátua sua, situada no alto do morro Tulcán, um monte considerado lugar de memória pelos indígenas, foi derrubada em setembro. As imagens da derrubada com cordas pareciam idênticas, e o ato foi novamente reivindicado pelo Movimento de Autoridades Indígenas, que na época encenou um julgamento em que acusou o conquistador espanhol de genocídio, espoliação e apropriação de terras, bem como de desaparecimento físico e cultural dos povos indígenas.
Naquela época eclodiu uma intensa polêmica. Alguns celebraram o gesto como um ato de dignidade histórica e cultural —”cai um símbolo de 500 anos de humilhação e dominação dos povos originários”, disse o senador indígena Feliciano Valencia—, enquanto outros o criticaram como uma expressão de violência, à semelhança do debate sobre a derrubada de estátuas e símbolos de figuras associadas a escravistas ou acusadas de racismo em outros países, como os Estados Unidos.
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