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Mudanças climáticas põem hidrelétricas em xeque

Antes considerada particularmente confiável entre as energias renováveis, a energia hidráulica se vê ameaçada diante de grandes períodos de seca e chuvas intensas. As mudanças climáticas seriam o fim da hidreletricidade?

Uma vez construída, uma usina hidrelétrica pode produzir eletricidade a qualquer momento de maneira confiável: por muitos anos, esse tem sido o principal argumento para gerar eletricidade a partir da energia da água. Segundo o think tank Ren21, sediado em Paris, mais da metade da eletricidade renovável do mundo em 2019 foi gerada por hidrelétricas.

Mas essa vantagem parece estar se perdendo com o avanço das mudanças climáticas. Em 2021, secas relacionadas ao clima foram responsáveis pela maior queda na geração de energia hidráulica em décadas.

Perdas mundiais na geração de energia

No Lago Mead, não muito longe da metrópole americana Las Vegas, a Represa Hoover retém o Rio Colorado e abastece mais de 140 milhões de cidadãos com água. Atualmente, porém, o grande reservatório contém apenas um terço de seu potencial. Em julho de 2021, devido aos baixos níveis de água, sua usina gerou 25% menos eletricidade do que o normal. Recentemente, a Agência Federal de Recursos Hídricos decretou que as localidades a jusante da barragem deveriam receber menos água a partir de janeiro de 2022.

Vista aérea do Lago de Furnas, em Pimienta, Estado de Minas Gerais, Brasil, em 19 de julho de 2021.

Seca no Lago de Furnas, MG

No sul do continente americano, a situação é semelhante em muitos lugares. O Rio Paraná, que atravessa o Brasil, Paraguai e Argentina, está passando por uma baixa histórica, pois o Sul do Brasil, onde nasce o Paraná, vem sofrendo uma forte seca há três anos.

Em comparação com a média das últimas duas décadas, os níveis de água nos reservatórios do Centro e Sul do Brasil caíram mais da metade, retendo atualmente pouco menos de um terço de sua capacidade. Como o Brasil obtém 60% de sua eletricidade a partir de hidrelétricas, o país corre risco de apagões.

Nesta quinta-feira (26/08), o presidente Jair Bolsonaro chegou a pedir que a população apagasse um ponto de luz em casa para economizar energia: “Ajuda, assim, a economizar energia e água das hidrelétricas. E em grande parte dessas represas já estamos na casa de 10%, 15% de armazenamento. Estamos no limite do limite. Algumas vão deixar de funcionar se essa crise hidrológica continuar existindo”, apelou Bolsonaro nas redes sociais.

De volta aos combustíveis fósseis

Para evitar que isso aconteça, as autoridades brasileiras decidiram reativar as termelétricas, movidas a gás natural. Isso acarreta um novo aumento nas emissões de gases de efeito estufa, assim como dos custos da luz.

Algo semelhante está acontecendo nos EUA: o governo do estado da Califórnia permitiu que os consumidores industriais e os navios atendessem às suas demandas de eletricidade com geradores a diesel. As usinas de gás natural também deverão obter permissão para queimar mais gás a fim de gerar eletricidade.

Casas flutuantes atracadas no reservatório do Lago Oroville durante emergência de seca na Califórnia em 25 de maio de 2021.

Devido ao baixo nível da água no Lago Oroville, na Califórnia, a usina hidrelétrica parou de funcionar em agosto de 2021

Não só períodos de seca ameaçam paralisar a geração de eletricidade pelas hidrelétricas, mas também fortes chuvas e inundações. No Malawi, por exemplo, duas grandes usinas hidrelétricas foram danificadas pelas enchentes após o ciclone Idai, em março de 2019, provocando colapso do fornecimento de energia em partes do país, por vários dias.

África ainda aposta na hidreletricidade

Em países como Malawi, República Democrática do Congo, Etiópia, Moçambique, Uganda e Zâmbia, a participação das hidrelétricas na geração de eletricidade é superior a 80%, de acordo com a Agência Internacional de Energia (AIE). No total, cerca de 17% da eletricidade na África era gerada a partir de energia hidrelétrica no fim de 2019. De acordo com as previsões, a proporção deve aumentar para mais de 23% até 2040.

Represa Gibe III, na Etiópia.

Megaprojeto Gibe III, na Etiópia, gera receios de enchentes e secas nos vizinhos Egito e Sudão

Outro problema, segundo a AIE, é que na maioria dos planos de novos projetos hidrelétricos na África os possíveis efeitos das mudanças climáticas não são levados em consideração ou apenas de forma insuficiente.

Muitas das usinas hidrelétricas em funcionamento também enfrentam outro problema: a idade. Segundo estudo da Universidade das Nações Unidas, as barragens chegam ao fim de sua vida útil 50 a 100 anos após a construção. devido ao desgaste do material de construção, que aumenta o risco de rompimento de barragens.

Saiba mais em: https://www.dw.com/pt-br/mudan%C3%A7as-clim%C3%A1ticas-p%C3%B5em-hidrel%C3%A9tricas-em-xeque/a-59005437

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