A política externa linha-dura está perdendo terreno ao passo que a China fornece 70% ddos metais de terras raras do mundo
Por Michael T. Klare | Créditos da foto: Peter Chou Kee Liu/Flickr
Graças ao seu próprio nome – energia renovável – podemos imaginar um período em um futuro não tão distante em que a nossa necessidade por combustíveis não renováveis como petróleo, gás natural e carvão vai desaparecer. De fato, a administração Biden anunciou uma meta revolucionária para 2035 de eliminar completamente a dependência estadunidense nesses combustíveis não renováveis para a geração de eletricidade. Isso seria alcançado por meio do “uso de recursos geradores de eletricidade sem poluição por carbono”, principalmente a energia interminável do vento e do sol.
Com outras nações caminhando na mesma direção, é tentador concluir que os dias de competição por suprimentos energéticos finitos e fontes de conflitos logo terão fim. Infelizmente, pense novamente: enquanto o sol e o vento são, de fato, infinitamente renováveis, os materiais necessários para converter esses recursos em eletricidade – minerais como cobalto, cobre, lítio, níquel e os metais de terras raras – não são. Alguns deles, na realidade, são muito mais escassos que o petróleo, sugerindo que a luta global por recursos vitais pode não desaparecer na Era dos Renováveis.
Para compreender esse paradoxo inesperado, é necessário explorar como a energia eólica e solar são convertidas em formas utilizáveis de eletricidade e propulsão. A energia solar é amplamente coletada por meio de células fotovoltaicas, frequentemente usada em extensos parques eólicos. Para usar a eletricidade em transportes, carros e caminhões devem estar equipados com baterias avançadas capazes de suportar uma carga para longas distâncias. Cada um desses aparelhos usa quantidades substanciais de cobre para transmissão elétrica, bem como uma variedade de outros minerais não renováveis. As turbinas eólicas, por exemplo, exigem magnésio, níquel, zinco, metais de terras raras e molibdênio para seus geradores elétricos, enquanto veículos elétricos precisam de cobalto, grafite, lítio, magnésio e metais de terras raras para seus motores e baterias.
No momento, com a energia solar e eólica representando cerca de somente 7% da geração de eletricidade global e os veículos elétricos representando menos de 1% dos carros nas estradas, a produção desses minérios está mais ou menos adequada à demanda global. Se, no entanto, os EUA e outros países realmente forem em direção a um futuro verde do tipo concebido pelo presidente Biden, a demanda por esses minérios aumentará muito e a produção global não alcançará as necessidades antecipadas.
De acordo com um estudo recente da Agência Internacional de Energia (IEA), “O Papel de Minérios Importantes nas Transições para Energia Limpa”, a demanda por lítio em 2040 pode ser 50 vezes maior do que hoje e por cobalto e grafite 30 vezes maior se o mundo se mover para substituir veículos movidos a petróleo por veículos elétricos. Tal demanda, é claro, incentiva a indústria a desenvolver novos suprimentos desses minérios, mas as suas fontes são limitadas e o processo de viabilizá-los será custoso e complicado. Em outras palavras, o mundo poderia enfrentar escassez de materiais importantes. (“Enquanto transições para energia limpa aceleram em escala global”, o relatório da IEA observou, “e os painéis solares, turbinas eólicas, e carros elétricos são utilizados cada vez mais, esses mercados crescentes de minérios importantes podem ser sujeitados à volatilidade dos preços, influência geopolítica e até mesmo rupturas para realizar o fornecimento”.
E aqui está mais uma complicação: Para alguns dos materiais mais importantes, incluindo o lítio, cobalto, e esses elementos de terras raras, a produção é altamente concentrada em apenas alguns países, uma realidade que poderia levar a disputas geopolíticas que acompanharam a dependência global em algumas grandes fontes de petróleo. De acordo com a IEA, apenas um país, a República Democrática do Congo (DRC), atualmente fornece mais de 80% do cobalto do mundo, e outro – a China – 70% de seus elementos de terras raras. Da mesma forma, a produção de lítio é grande em dois países, Argentina e Chile, que, em conjunto, representam quase 80% do fornecimento mundial, enquanto quatro países – Argentina, Chile, a DRC e o Peru – fornecem a maior parte do nosso cobre. Em outras palavras, tais suprimentos futuros estão bem mais concentrados em poucos territórios do que o petróleo e o gás natural, fato que preocupa analistas do IEA sobre disputas futuras em relação ao acesso global a eles.
Saiba mais em: https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Poder-e-ContraPoder/O-futuro-da-energia-renovavel-depende-da-China/55/50681
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